Rede de Contatos – ‘Boca a boca’ divulga o esperanto

Impulsionado pela internet, é o idioma planejado mais difundido do mundo

Quando alguém menciona o esperanto, a associação imediata que muitos leigos fazem pode ser resumida no famoso verso da música “Miséria”, dos Titãs: “Ninguém sabe falar esperanto!”. Pois o tal verso não poderia estar mais errado. Muitas pessoas falam o idioma, planejado e proposto pelo médico polonês Lázaro Luís Zamenhof no final do século XIX com o objetivo de ser uma língua internacional, que facilitasse a comunicação entre povos de culturas diferentes.

A internet deu um novo impulso ao esperanto. A rede está cheia de conteúdos sobre o idioma: publicações, endereços de associações que divulgam a língua, tradutores online, informações sobre eventos relacionados ao tema e até mesmo cursos completos.

Ivan Eidt Colling, professor do curso de esperanto do Centro de Línguas e Interculturalidade (Celin) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), explica que hoje é difícil mensurar a quantia de pessoas que falam o idioma em todo o mundo. “Já vi estatísticas que apontam que a população mundial que sabe falar esperanto estaria entre 1 milhão e 10 milhões de pessoas. Em Curitiba, certa vez vi um número que informava que havia aproximadamente 200 falantes de esperanto na cidade. Hoje, eu não sei”, afirma Colling.

O professor argumenta que esse é um dado difícil de apurar, pois muita gente aprende esperanto por conta própria. “Há muitos cursos na internet e muitas pessoas aprendem o idioma sozinhas. Se você estudar alemão na internet, dificilmente vai estabelecer uma conversação satisfatória, ao menos em um primeiro momento. Já o esperanto é bem mais fácil de aprender”, justifica.

Segundo Colling, a estrutura do idioma proporciona essa facilidade. “Em primeiro lugar, o esperanto tem um alfabeto fonético. Cada letra tem um som, não varia, ao contrário do português, por exemplo. Além disso, a gramática é regular: quando você aprende a conjugar um verbo, aprende a conjugar todos. Em terceiro lugar, o esperanto tem uma flexibilidade, uma estrutura de prefixos e sufixos que permite ‘montar’ palavras”, explica.

“Por fim, faz uso de vocabulário internacional. As palavras são reconhecíveis por pessoas que falam idiomas ocidentais. No léxico do esperanto, 70% das palavras têm origem latina, 20% têm origem anglogermânica e as demais vêm de outras origens. Por outro lado, o esperanto atrai falantes de idiomas orientais porque sua estrutura tem estilo oriental, uma flexibilidade que se assemelha ao chinês, por exemplo”, afirma o professor.

Ariadne Mara Figueiró, presidente da Associação Paranaense de Esperanto, afirma que essa característica familiar e a ideia de igualdade despertam o interesse. “O esperanto é a língua-ponte. Tanto que se fala: ‘Para cada povo, uma língua. Para todos, esperanto’”, diz Ariadne, descrevendo que o contexto em que Zamenhof criou o idioma contribuiu para o caráter internacional da língua.

“Zamenhof era poliglota. Na Polônia, ele estava próximo tanto do Ocidente quanto do Oriente. Ele tinha a ideia de fazer um idioma que fosse o mais internacional possível”, explica.

A presidente relata que o senso de comunidade é grande entre os falantes de esperanto. “Muitas famílias se conhecem através do esperanto e até acontecem situações de crianças que aprendem o idioma como sua língua materna. Em todo o mundo, há muitos esperantistas que colocam a sua casa à disposição para falantes de esperanto de outros países. Então, ocorrem muitos casos de pessoas que viajam para locais cuja língua oficial desconhecem, e são recepcionadas por esperantistas”, conta Ariadne.

Fábio Galão

‘É tudo muito lógico’, diz estudante

Mônica soube do esperanto através do noivo e ficou curiosa para saber mais. Assim como ela, os estudantes de Engenharia Elétrica Tiago Andrei Adamczevski, 21 anos, e Walter Godefroid, 22, não conheciam a ampla rede de contatos alimentada por esperantistas até ingressar no curso do Celin.

Hoje, os dois colegas, que estão no nível 2 do curso, acreditam que o esperanto pode ser uma ferramenta eficiente para se comunicar com o mundo. “O idioma ajuda a ‘fazer a ponte’. Pode ser usado para viajar para fora do País, ou receber alguém, enfim, fazer contatos”, diz Walter.

Ele e Tiago apontam que a estrutura do esperanto é fácil de ser assimilada. “É tudo muito lógico. As coisas se ‘encaixam’”, explica Tiago. “Há um conjunto de regras, é só aplicá-las e elas funcionam perfeitamente. Parece coisa de engenheiro”, complementa Walter. (F.G.)

‘Ele se preocupou com o som agradável’

Quem garante que o inglês terá sempre a mesma importância?

O professor Ivan Colling afirma que há registros históricos de aproximadamente 600 idiomas planejados. Destes, o esperanto é o mais difundido. “Muitos estudiosos acreditam que o esperanto ‘vingou’ porque (Lázaro) Zamenhof não quis criar apenas um idioma. Ele se preocupou com que a língua tivesse um som agradável, adequado à poesia, ao canto. Enfim, uma língua realmente humana”, diz o professor.

Colling aponta que a cultura do esperanto cresce ano a ano. Hoje, existem milhares de mídias com conteúdos expressos no idioma: DVDs, revistas, livros, sites, tanto em traduções, quanto em produções originais na língua.

Entretanto, a proposta do esperanto de ser uma língua internacional, uma espécie de denominador comum entre os povos, é vista com certo ceticismo por muitas pessoas, que argumentam que esse papel é desempenhado pelo inglês. Teria o esperanto “fracassado”?

Colling acredita que não. Ele defende que o esperanto é um idioma novo, sem pretensões hegemônicas e que não visa substituir outros. “Como idioma, o esperanto é bastante jovem: 122 anos, para uma língua, é pouco tempo. Na história da humanidade, os idiomas que se impuseram o fizeram por meio do poder, seja econômico, político ou militar, ou os três juntos. Hoje, o inglês é hegemônico. Antes, foi o francês. Antigamente, o latim. Para quem vive a época, essa imposição parece uma solução perene. Mas quem garante que o inglês terá sempre a importância que tem hoje? É só pensar no latim: já foi o principal idioma, hoje é uma língua morta”, diz o professor.

“Se um dia o esperanto for adotado pela humanidade como a principal língua internacional, será por consenso, não por imposição”, complementa Colling.

Por não pertencer a nenhum país ou comunidade específica, o esperanto é divulgado na troca de informações, no “boca a boca”. “As pessoas que trabalham com isso são voluntárias. Não temos um governo que nos financie”, diz Colling. Ele próprio não “vive” do esperanto: é professor de Engenharia Elétrica da UFPR e voluntário no Celin. Já Ariadne Figueiró é funcionária pública. (F.G.)

Folha de Londrina (PR)
http://www.bonde.com.br

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