Os médicos sabem há muito tempo que a luz do Sol é um nutriente e um remédio particularmente eficaz para a tuberculose e feridas profundas na pele. É também benéfico para quem sofre de osteoporose, fraqueza imunológica e depressão de inverno, que pode começar no outono e ir até a primavera seguinte, quando o dia volta a ter mais horas de luz.
Nas décadas de 1920 e 1930, o doutor Auguste Rollier (1874—1954) foi pioneiro na construção de sanatórios especiais no alto dos Alpes suíços e na introdução de “banhos de sol” em sua própria clínica para tuberculosos em Leysin. Ele tornou-se o mais célebre praticante da “helioterapia” (helios é a palavra grega que significa “sol”). Foi só com o surgimento da penicilina em 1938 e a expansão da indústria farmacêutica que os médicos começaram a prescrever medicamentos em lugar da benéfica e gratuita luz solar. Hoje, com o ressurgimento da tuberculose no mundo ocidental, os benefícios da luz do Sol estão sendo redescobertos.
Outro médico que reconheceu as propriedades terapêuticas da luz solar foi o dr. Bates, oculista que trabalhava em Nova York no começo do século XX para melhorar naturalmente a visão. Ele criou um conjunto de exercícios que possibilitava a seus pacientes tomar o máximo de sol possível. Entre esses exercícios estavam incluídos períodos de “exposição ao sol”, olhando para o Sol com as pálpebras fechadas, de colocação das palmas das mãos sobre os olhos para que descansassem na escuridão, além de exercícios de piscar e mover os olhos, como também de fechar um olho e ver com o outro. Ele treinou seus pacientes a focalizarem com e através do centro da visão nos olhos, a fovea centralis. Ele acreditava que com isso e os exercícios de apoio, eles não precisariam absolutamente usar óculos. O livro atual do dr. Jacob Liberman, Take Off Your Glasses and See, leva adiante as convicções do doutor Bates.
DISTÚRBIO EMOCIONAL SAZONAL — A DEPRESSÃO DE INVERNO
Esse distúrbio, que recebeu essa designação em 1981 do dr. Norman Rosenthal, que estudou a relação entre a luz e o cérebro humano durante os últimos vinte anos, como fez também o dr. George Brainard, consultor da NASA em Ambientes Espaciais, é conhecido de muitas pessoas que sofrem de depressão, para as quais a palavra SAD* é simplesmente mais do que apropriada. De novembro a março (no hemisfério norte) as pessoas que sofrem desse mal podem ficar reduzidas a uma quase total inatividade em função da pouca quantidade de luz solar. O número de mulheres que sofre desse mal é quatro vezes maior do que o de homens. Há pouca motivação para levantar-se pela manhã ou até mesmo para viver. Pouco apetite sexual, comida em excesso para compensar e o inevitável aumento de peso agravam o estado deplorável dessas pessoas. Uma mulher disse que gostaria de ser simplesmente um urso — hibernar e acordar na primavera. Qual é a causa desse distúrbio, tão comum no norte da Europa e na América do Norte?
[* Essa sigla corresponde tanto às iniciais de seasonal affective disorder, ou “distúrbio emocional sazonal”, quanto ao adjetivo “triste” ou “deprimido”. (N. da T.)]
A glândula pineal e a melatonina
Como já vimos, dependemos da luz do Sol para viver. Ela chega ao nosso cérebro através dos olhos e é controlada por uma glândula extremamente importante, a glândula pineal, que na realidade funciona como um medidor de luz. Essa glândula controla a puberdade e influencia nossos padrões de sono. Ela secreta um hormônio chamado melatonina (mela significa “escuro” ou “preto”), que induz à hibernação e ao sono. Com pouca quantidade de luz solar, os níveis de melatonina são altos tanto durante o dia quanto à noite. A luz solar, entretanto, suprime a melatonina. Fomos, afinal, programados para ser ativos durante o dia e dormir durante a noite. Nossos ancestrais viviam de acordo com os ritmos naturais do Sol, da luz e das trevas, como continuam fazendo muitas pessoas em todo o mundo. Na realidade, esse era o padrão que todos nós seguíamos até 1879, quando Thomas Edison inventou a lâmpada elétrica, mostrando que a noite podia virar dia. Esse fato por si só causou uma tremenda revolução na sociedade. Particularmente nas cidades, surgiu um novo estilo de vida em espaços fechados com um grau elevado de stress e duvidosa vantagem para o comércio, como se fosse possível trocar a luz do Sol pelo trabalho diuturno.
Mas a lâmpada incandescente nos deu outro recurso para o tratamento do distúrbio emocional sazonal. A luz solar suprime a melatonina, mas o mesmo pode fazer a luz de uma “caixa luminosa”. A “terapia da luz radiante”, como é chamada, pode elevar o ânimo e também foi comprovada como benéfica para os portadores de distúrbios alimentares e para pessoas em processo de desintoxicação de drogas e álcool. Essas “caixas luminosas” são encontradas cada vez mais facilmente. Existe até mesmo um simulador do amanhecer — um relógio que vai clareando aos poucos antes de disparar o alarme para que a pessoa acorde de acordo com seu próprio amanhecer.
Pesquisas demonstraram que a luz viaja até o hipotálamo, uma área do cérebro rica em serotonina, que influencia a secreção da melatonina. Os níveis de serotonina são mais baixos no inverno e são estimulados pela luz para controlar a melatonina.
Existem “caixas luminosas” tanto para uso pessoal como para uso em clínicas. A intensidade mínima requerida para a fototerapia (terapia da luz) é de 2.500 lux — o equivalente a um dia claro de primavera. Um lux é a capacidade de iluminação de uma vela. Cerca de 85 por cento dos pacientes encontram alívio parcial ou total para seus sintomas depois de um período de duas horas (ou de uma hora, no caso de 1.000 lux) de exposição à lâmpada. O tratamento tem mais efeito logo depois do despertar e as sessões podem ser distribuídas pela manhã e à noite, embora não tarde da noite. Os pacientes que começam o tratamento no outono, quando seus sintomas são fracos, são encorajados a fazer uma caminhada diária ao ar livre e a aumentar os níveis de iluminação de suas casas.
Uma “caixa de luz” pode ser do tamanho de uma mala contendo seis tubos fluorescentes de cerca de 40 watts de potência, criando o equivalente a 2.500 lux, um quarto da luminosidade de um dia ensolarado de verão.
UMA IMITAÇÃO DO SOL: A LUZ DE REFLEXÃO TOTAL
A luz de reflexão total contém toda a sequência de cores do arco-íris com um nível de luz ultravioleta correspondente à luz natural do dia. Existem várias versões dessa iluminação e algumas, particularmente a “fluorescente branca fria”, devem ser evitadas. A fluorescente branca fria tem amarelo e laranja demais e vermelho ou azul de menos.
Na maioria das casas, a iluminação é deficiente na extremidade verde/azul do espectro. Ela está concentrada na extremidade laranja/vermelho para causar um efeito “aconchegante”. Isso é, obviamente, de nossa escolha, mas em espaços públicos de trabalho e lazer, como escolas, hospitais, presídios, escritórios e centros de recreação, é importante haver uma iluminação de reflexão total. Pesquisas comprovaram a ligação entre a hiperatividade das crianças e seus níveis de perda de dentes com a fraca iluminação nas salas de aula e que melhoraram com o uso da iluminação de reflexão total.
JOHN OTT: PIONEIRO NA PESQUISA DA LUZ
O maior pioneiro na pesquisa da luz de nosso tempo é John Ott, hoje com mais de noventa anos. Banqueiro bem-sucedido de Chicago por vinte anos, ele passou a se interessar pelo novo campo da fotobiologia por meio de seu passatempo, que era a fotografia. Já em 1927, ele estava trabalhando nos documentários de Walt Disney sobre a natureza com sequências especiais de espaços de tempo mostrando flores desabrochando e frutas amadurecendo. Ele passava seu tempo livre fotografando plantas sob iluminação fluorescente no porão de sua casa e estimulando o crescimento de mudas de plantas. Ele ficou intrigado com a influência que as diferentes ondas de luz exerciam sobre o crescimento das plantas. Em My Ivory Cellar, publicado em 1958, ele cita o caso da abóbora teimosa que produzia flores ou inteiramente fêmeas ou inteiramente machos, dependendo do tipo de iluminação que recebia.
Ott realizou essa mesma pesquisa também no mundo animal. Ele apresentou suas descobertas na Loyola University de Chicago, que lhe concedeu um doutorado em Ciências. Para coordenar seus estudos continuados sobre como a luz pode melhorar a saúde de plantas e animais — e eventualmente as condições fisiológicas do homem — ele fundou então o Environmental Health and Light Institute.
A obra de Ott foi recebida com uma indiferença polida pela comunidade científica, mas o grande público começou a ouvir suas teorias de iluminação indevida, que impomos a nós mesmos com coisas como janelas de vidros escurecidos, pára-brisas e óculos escuros que nos privam da luz de reflexão total da qual necessitamos. Nos últimos cinquenta anos, a “síndrome das três telas” (cinema, televisão e computador) confinou a espécie humana a espaços fechados e privou-a dos ambientes de luz natural. John Ott criou um sistema de iluminação interior que imita a reflexão total da luz solar.
LUZ SOLAR SEGURA: A POLÊMICA EM TORNO DO ULTRAVIOLETA
A obra de Ott influenciou diretamente a de Jacob Liberman, cujas pesquisa e vida pessoal põem em relevo sua preocupação com o quanto o Sol deve ser valorizado, a fonte de vida em nosso sistema solar. Liberman concluiu seu doutorado em optometria na University of Georgia em 1973 e seu PhD em Vision Science por sua obra pioneira em fototerapia. Ele fez palestras por todos os Estados Unidos e Europa e tratou bem mais de 15.000 pessoas com dificuldade para aprender e com traumas emocionais, de executivos a atletas olímpicos. É uma figura preeminente no mundo da ciência holística da visão e um patrono do LIGHT Trust. Seu livro, Light: Medicine of the Future, é um clássico sobre a importância da luz solar e a necessidade de iluminação artificial adequada.
Liberman apresenta os benefícios da luz ultravioleta em uma atmosfera de medo que procura bani-la a qualquer preço com o uso de óculos escuros, protetores solares e vidros coloridos. Apesar de concordar com o dr. Ott que o excesso de luz ultravioleta é prejudicial, Liberman observa que todos nós precisamos de uma quantidade básica de UV para garantir a vida e um sistema imunológico saudável. Entre os benefícios estão a criação da vitamina D, que necessitamos para absorver o cálcio e outros minerais presentes em nossa alimentação. A UV reduz a pressão sanguínea, aumenta a eficiência do coração, reduz o colesterol, ajuda a reduzir o peso, aumenta o nível de hormônios sexuais, ativa o hormônio cutâneo solitrol, que junto com o hormônio melatonina da glândula pineal atua no sentido de controlar as reações do corpo à luz e à escuridão, além de ser um tratamento eficaz para a psoríase, a tuberculose e a asma.
O dr. Liberman afirma que a questão com respeito à luz UV tem sido exagerada além da conta e que se criou uma paranóia entre as pessoas quanto aos efeitos nocivos do sol. Ele recomenda as seguintes medidas de bom senso: Passar no mínimo uma hora por dia, faça chuva ou faça sol, exposto à luz solar, sem óculos escuros nem protetores solares. Quatorze de dezessete protetores solares, segundo a Food and Drug Administration (Órgão do governo dos Estados Unidos voltado para o controle de alimentos e medicamentos – N. da T.), podem ser carcinógenos se usados ao sol e conter o ácido paraminobenzóico (PABA), destinado a bloquear as radiações ultravioletas. Evitar expor-se ao sol no período entre 10 e 14 horas e não olhar diretamente para o Sol. Se necessitar de óculos escuros para reduzir a intensidade da luz solar, usar lentes neutras de cor cinza.
VIVER DE LUZ: ALIMENTAÇÃO ESPIRITUAL
Assimilar a luz do Sol inclui, obviamente, toda a alimentação, desde comer alimentos cultivados organicamente e colhidos recentemente até não ingerir nada, nem sólidos nem líquidos, mas viver apenas de luz, como fazem os breatharians. (Movimento cujos participantes vivem de luz – N. da T.) Milhares de pessoas na Europa, nos Estados Unidos e na Austrália estão vivendo, pelo que dizem, vidas plenas e saudáveis, nutrindo-se apenas do prana, a energia vital que os iogues extraem do interior de si mesmos em períodos de jejum. Esse não é mais um culto extravagante à saúde, tão em voga, mas um caminho espiritual. O livro de Jasmuheen, Living on Light (Viver de Luz), explica o processo pelo qual isso tanto é possível como, para alguns, desejável. A experiência e a lição que ela transmite merecem ser levadas a sério. Elas são importantes, afirma-se, para a solução do problema da fome no mundo.
Vale a pena também considerar por que comemos e que papéis a comida e a bebida exercem na nutrição. Qual é a nossa meta na vida e o que a alimenta? Se nossa meta é espiritual, talvez devêssemos nos alimentar do espírito e explorar o que os iogues e outros chamam de “jejuar em favor da saúde”. As pessoas que buscam sustento em seus recursos espirituais parecem às vezes ser mais aptas e cheias de energia do que as que comem e bebem de acordo com os padrões convencionais. Para isso, é importante saber o que é o prema e as correntes prânicas em nosso sistema. Voltaremos a esse assunto mais adiante.
RITMOS E CICLOS DA LUZ
Falamos muito sobre o Sol, mas existem outras fontes de luz que nos afetam — a Lua, as estrelas, os planetas e até mesmo os cometas. Juntos, todos eles mostram ter um ritmo, um fluxo e refluxo sazonais, um ciclo previsível, como de fato ocorre na vida em sua totalidade. A maioria de nós levanta-se com o Sol e vai dormir quando ele se pôs, seguindo seu ciclo de 24 horas. A Lua, que influencia o movimento das marés e afeta não apenas o ciclo menstrual das mulheres, mas também os fluidos orgânicos de todos nós, cresce e míngua em ciclos de 28 dias. Diz-se que as sementes devem ser plantadas na Lua cheia e não na minguante. As estações se sucedem, com a primavera dando lugar ao verão que, por sua vez, dá lugar ao outono e ao inverno. Esses importantes biorritmos são inseparáveis de todas as fontes de vida, até mesmo das mais ocasionais como o cometa Hale-Bopp. Foi a partir do movimento dos astros, do seu surgimento e ocaso, que criamos o tempo — que é uma invenção humana — estabelecendo parâmetros sobre uma infinidade de mesmice e mapeando as vindas e idas de nossas fontes de luz. Há uma concordância do homem com as estações nas suas sete idades, quando a criança torna-se adulto e depois talvez passe para uma segunda infância antes de morrer — quem sabe, como muitos dizem, para repetir o ciclo de vidas até alcançar a iluminação e não precisar mais retornar. A vida é cíclica em uma direção ascendente, como uma espiral — um padrão que se manifesta de inúmeras formas. Recuamos para podermos avançar mais e a cada noite nos retiramos para a escuridão para que possamos encarar com vigor o amanhecer de um novo dia.
O poder de cura da luz, Primrose Cooper, Ed. Pensamento, São Paulo-SP, 2003, pp. 31-43.
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