Natureza pode ser melhor que tecnologia para reduzir poluição do ar

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Solução natural

Plantas – e não tecnologias – podem ser a opção mais barata para limpar o ar próximo a fábricas, estradas, usinas de energia, caldeiras comerciais e locais de perfuração de petróleo e gás.

A mera adição de plantas e árvores às paisagens próximas às fábricas e outras fontes de poluição pode reduzir a poluição do ar em uma média de 27%, algo que poucas tecnologias conseguem.

De fato, os pesquisadores descobriram que, em 75% dos municípios analisados, era mais barato usar plantas para mitigar a poluição do ar do que adicionar intervenções tecnológicas – coisas como lavadores do ar expelido pelas chaminés – às fontes de poluição.

“O fato é que tradicionalmente, especialmente como engenheiros, não pensamos na natureza; apenas nos concentramos em colocar tecnologia em tudo,” disse Bhavik Bakshi, da Universidade Estadual de Ohio. “E, portanto, uma descoberta importante é que […] existem oportunidades em que todos saem ganhando – oportunidades potencialmente mais baratas e ambientalmente melhores”.

Plantas contra poluição do ar

Para começar a entender o efeito que as árvores e outras plantas poderiam ter sobre a poluição do ar, os pesquisadores coletaram dados públicos sobre a poluição do ar e a vegetação, município por município, em 48 estados norte-americanos. A seguir, eles calcularam o custo da adição de árvores e plantas adicionais, o que inclui a área para plantá-las.

Os cálculos incluem também a capacidade da vegetação atual – incluindo árvores, campos e matagais – de mitigar a poluição do ar. Também foi considerado o efeito que a recuperação de áreas degradadas – retornando a cobertura vegetal de um determinado local aos níveis médios do município – poderia ter sobre os níveis de poluição do ar. Finalmente, foi estimado o impacto das plantas nos poluentes atmosféricos mais comuns – dióxido de enxofre, material particulado e dióxido de nitrogênio.

Os dados indicam que a adição de árvores ou outras plantas poderia reduzir os níveis de poluição do ar nas áreas urbanas e rurais, embora as taxas de sucesso variem dependendo de, entre outros fatores, quanta terra está disponível para o cultivo de novas plantas e a qualidade do ar atual.

Em média, deixar a vegetação ao redor dos locais industriais no nível médio do município reduziu a poluição do ar em 27% no próprio município. Esse número varia de acordo com a região, já que foram incluídos municípios desde regiões agrícolas até regiões desérticas. E, em 75% dos casos, é mais barato recuperar a cobertura vegetal do que implantar tecnologias antipoluição.

A pesquisa não calculou os efeitos diretos que as plantas podem ter sobre a poluição por ozônio, porque, segundo Bakshi, não há dados suficientes sobre as emissões de ozônio. A análise também não considerou se certas espécies de árvores ou plantas limpariam melhor a poluição do ar – embora isso seja provável, só foi considerada a área de cobertura vegetal.

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Aceitar as pessoas como elas são não nos obriga a conviver com elas

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É preciso tolerar e aceitar as pessoas como elas são, porém, conservando-nos o direito de nos afastar cordialmente de quem não nos agrada.

A tolerância é uma necessidade urgente neste mundo violento de hoje, em que uma simples discussão no trânsito pode chegar a provocar mortes. A intolerância é a mãe do preconceito, da exclusão, do racismo, de tudo, enfim, que segrega, separa e agride o que não se aceita, o que não se acha normal, o que incomoda sem nem haver razão. Sim, é preciso tolerar e aceitar as pessoas como elas são, porém, conservando-nos o direito de nos afastar cordialmente de quem não nos agrada.

Podemos entender que o outro tem a própria maneira de pensar, que sua história de vida é peculiar e suas bagagens podem ser totalmente diferentes das nossas. Podemos compreender que as verdades alheias, por mais que nos soem ilógicas e absurdas, são do outro tão somente e não necessariamente nossas. Desde que não nos firam, as escolhas do outro não nos dizem respeito. Desde que o outro esteja feliz, sem pisar ninguém, não temos como tentar intervir em estilos de vida que não são nossos.

Devemos saber discordar sem ofender, sem tentar impor o que pensamos como verdade absoluta – isso é arrogância burra. Necessitamos ouvir o que o outro tem a dizer, por mais que não enxerguemos ali razão alguma, mesmo que o que disserem ou fizerem seja exatamente o contrário de tudo o que temos como certo. Desde que não nos ofendam, nem ultrapassem os limites de nossa dignidade pessoal, os outros terão o direito de viver o que bem quiserem.

Por força maior, como o emprego ou a família, inevitavelmente estaremos sujeitos à obrigação de conviver ao lado de pessoas com quem não simpatizamos ou cujas idéias não se afinem minimamente com as nossas. No entanto, sempre poderemos escolher quem ficará ao nosso lado nos momentos mais preciosos de nossa jornada, enquanto construímos nossa história de vida, de luta e de amor.

Da mesma forma, conseguiremos nos desviar de quem nos desagrada, afastando-nos das pessoas que nada nos acrescentam, sem precisar criticá-las ou brigar com elas. Sim, podemos – e devemos – aceitar as pessoas como elas são, pois isso é o mínimo que se requer, em se tratando de sociedade, porém, não seremos obrigados a conviver além do necessário, além do suportável, além do adequado, com gente que enche a paciência e nos irrita. Isso seria masoquismo.

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Projeto de remédios de código livre dá primeiros resultados

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Remédios de código livre

No que está sendo chamado de a primeira descoberta de remédios de “código-fonte aberto”, cientistas de todo o mundo trabalharam em conjunto para identificar compostos químicos para tratar e prevenir doenças transmitidas por parasitas, como a malária, e alguns tipos de câncer.

Nas pesquisas de código aberto, todos os cientistas compartilham informações livre e abertamente e não registram patentes das descobertas, deixando todos os resultados em domínio público.

O esforço começou em 2011, quando a entidade Medicines for Malaria Venture, com sede em Genebra (Suíça), distribuiu 400 diferentes compostos químicos com potencial atividade antimalárica para 200 laboratórios em 30 países.

Um terço dos laboratórios fizeram agora um relatório conjunto dos resultados em um artigo publicado na revista PLoS Pathogens.

Remédios contra malária e câncer

As pesquisas deram origem a doze projetos de desenvolvimento de medicamentos, e não apenas para malária, mas para uma variedade de doenças.

“O ensaio foi bem-sucedido, não só na identificação de compostos para desenvolver fármacos contra a malária, mas também identificou compostos para o tratamento de outros parasitas e para o câncer,” disse o professor Wesley Van Voorhis, da Universidade de Washington, que liderou a elaboração do relatório.

O Instituto Nacional do Câncer dos EUA já está trabalhando em uma droga contra o câncer de cólon, que surgiu a partir do esforço, informou Van Voorhis. Vários laboratórios europeus estão trabalhando em compostos contra a malária, enquanto os laboratórios dos EUA estão investigando medicamentos para combater outros parasitas.

Colaboração entre universidades e empresas

Empresas farmacêuticas, como a GSK e a Novartis, já se interessaram pelos resultados e estão colaborando com o projeto com intenção de fabricar os medicamentos descobertos.

“Grande parte dos recursos globais em biologia está nas universidades, enquanto que o foco da química medicinal ainda está em grande parte dentro da indústria. A descoberta de drogas open-source, com o compartilhamento de informações, é claramente um primeiro passo para superar essa lacuna,” escreveu Van Voorhis em seu relatório.

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Viver em comunidade é realidade no interior de São Paulo

Porangaba (169 km a oeste de São Paulo) possui um grupo especial de habitantes: 18 adultos e uma criança vivem em uma comunidade auto-sustentável batizada de Parque Ecológico Visão Futuro, que ocupa uma área de 70 hectares. Eles fazem as refeições juntos, compartilham as salas de meditação e de TV, moram em casas comunitárias e trabalham na própria comunidade.

O Visão Futuro é uma ecovila, cujo formato é uma herança das comunidades alternativas dos anos 60. O conceito, porém, é diferente daqueles usados pelos hippies.

“As ecovilas respondem mais ao que as pessoas de hoje querem e precisam, pois inovam constantemente em tecnologia e em forma de governança”, diz a socióloga paulistana May East, que mora há 11 anos em Findhorn, no Reino Unido, a primeira ecovila do mundo. East é consultora da GEN (Global Ecovillages Network ou Rede Global de Ecovilas) e representa o movimento na ONU. “Para as Nações Unidas, as ecovilas são a revolução do habitat”, diz ela.

“A auto-sustentabilidade vai ao encontro das necessidades do presente sem comprometer a sobrevivência das gerações futuras.” De acordo com dados da GEN, há cerca de 15 mil ecovilas espalhadas pelo mundo, somando perto de 1 milhão de moradores. No Brasil, existem cerca de 30 comunidades, assessoradas pela Rede de Ecovilas das Américas, que dá suporte e integra as comunidades do continente. Cada ecovila reúne até 2.000 pessoas dispostas a criar estratégias para viver melhor, baseando-se em valores como o respeito à natureza, a importância das relações interpessoais e a diversidade.

Objetivo compartilhado

O ideal comum que rege a vida de cada uma dessas comunidades é chamado de “cola”. A “cola” do Visão Futuro, por exemplo, é a espiritualidade. Seus moradores praticam ioga e meditação de acordo com os métodos da biopsicologia, que integra as pesquisas em psiconeuroimunologia do Ocidente com uma milenar prática oriental que relaciona as vibrações dos “chakras” -centros de energia do corpo- com as secreções endócrinas.

Já na ecovila australiana Crystal Waters, a “cola” é a permacultura e o design ecológico. Os primeiros moradores viveram em cabanas durante quatro estações para observar a direção do sol e dos ventos e as épocas de chuva e neve para depois escolher os melhores locais e materiais para suas casas e decidir quais alimentos produzir e como plantá-los.

Nas ecovilas, consome-se pouco, reutiliza-se muito e recicla-se quando necessário. A agricultura é orgânica e sazonal. O que falta de alimento é obtido com produtores e comerciantes regionais, fortalecendo a economia local. Os sistemas de captação de energia são renováveis e atóxicos, obtidos com tecnologia sofisticada, porém não agressiva ao ambiente. A água é reaproveitada ao máximo: depois de utilizada nos chuveiros e na cozinha, ela é tratada e irriga a horta, por exemplo.

Na escocesa Findhorn, as casas -feitas com a madeira reaproveitada de barris de uísque- são iluminadas e aquecidas com a combinação de energia eólica, placas solares e lenha de florestas de manejo sustentável. Frequentemente, roupas e objetos são trocados entre os moradores na “butique” local.

Garantir trabalho para cada um também faz parte dos objetivos desses agrupamentos, caracterizados como multifuncionais. As atividades variam de acordo com o nível de desenvolvimento da comunidade. As ecovilas mais antigas possuem vários negócios, como gravadoras, editoras, construtoras, laboratórios de essências florais, estúdios de design ecológico para tratamento de água, serviços de informática e escolas.

Tudo pensado de modo a não tirar nada da natureza que não possa ser devolvido. Nem todas as ecovilas estão localizadas em áreas rurais. Há cerca de dez comunidades urbanas; a primeira delas foi criada em Los Angeles (EUA). Pensar e decidir em grupo faz parte da vida comunitária.

Por isso, segundo East, cada ecovila deve abrigar, idealmente, até 500 pessoas, honrando a diversidade cultural, religiosa e de raça. “Nesse tamanho, todos se reconhecem, e todas as vozes podem ser ouvidas, sem a necessidade de nomear representantes.”

Quebra-cabeça

“Temos gente de todos os tipos para contribuir com um pedaço do quebra-cabeça”, diz a socióloga e psicóloga americana Susan Andrews, uma das fundadoras do Parque Ecológico Visão Futuro. A comunidade nasceu em 1997 a partir de um projeto de educação ambiental desenvolvido por ela.

Andrews, que morou por 30 anos na Índia, formou-se monja e fala 12 línguas, explica que o Visão Futuro, como as outras ecovilas, visa suprir as necessidades básicas de seus moradores: trabalho, alimento, vestuário, educação, saúde, moradia e energia.

A principal fonte de renda do parque são os cursos de biopsicologia ministrados por Andrews e sua equipe nos finais de semana. O restante é obtido com os tratamentos de ayurveda (medicina tradicional indiana) e com a venda de verduras orgânicas, cosméticos e produtos da padaria e da doçaria. As atividades do Visão Futuro incluem ainda elaboração de publicações, laboratório de plantas medicinais, oficina de costura e centro de artes e comunicação.

Todos esses setores têm o compromisso de contribuir com a arrecadação, destinada a pagar as despesas coletivas do Visão Futuro -alimentação, eletricidade, telefone, gás, produtos de limpeza e salários de funcionários e moradores. O que sobra vai para o setor que mais arrecadou. “Funciona como uma cooperativa: os setores são semi-autônomos e investem na atividade e nos profissionais, o que gera mais motivação”, diz Andrews.

O Visão Futuro conta com cinco casas comunitárias, onde moram os novos membros da comunidade, e quatro individuais, que abrigam os moradores mais antigos. Andrews afirma que a vivência nas moradias compartilhadas é importante para a pessoa amadurecer a idéia de morar na comunidade. “Mas isso não é uma imposição, é também circunstancial. Prezamos a individualidade, as pessoas querem ter seu espaço, isso é saudável. Mas não temos recursos para oferecer moradia nova para todos nesse momento”, explica.

As refeições são preparadas na cozinha comunitária, que, como os mantimentos da dispensa, está disponível a todos os moradores. Na hora de comer, é só escolher um cantinho. Mesas e cadeiras estão espalhadas sob as árvores, no refeitório e dentro da cozinha. É difícil ver alguém almoçando ou jantando sozinho, embora cada casa a tenha sua própria cozinha.

“Cozinhar para todo mundo é mais eficiente, poupa tempo. Além disso, as refeições são momentos de encontro”, diz Andrews. O chefe de cozinha Luiz Carlos Cardoso elabora, junto com os moradores, um cardápio semanal balanceado, sempre lactovegetariano, que é a dieta adotada por essa comunidade -nem todas as ecovilas são vegetarianas. Quitutes especiais, como tortas, geléias e chocolates podem ser comprados na padaria, na doçaria ou nos mercados da cidade.

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Em Campo Grande (MS), lei obriga aluno que não se comporta a lavar o banheiro da escola

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No Japão, esta é uma prática comum. Devíamos aprender com os orientais 🙂

Projeto piloto foi desenvolvido em escola municipal de Campo Grande (MS). Antes, casos de indisciplina levavam até 1 ano para ter uma decisão judicial.

Por Cesar Galeano

Uma escola municipal resolveu mudar a forma de chamar a atenção de alunos que não se comportam. E esse projeto acabou virando lei para todos os colégios de Campo Grande (MS).

O adolescente, que já fez da escola um ringue de luta, disse que não aguentou a provocação de um colega. “Na hora eu tava estressado, ele continuava e eu fui pra cima dele, sem pensar”, contou o adolescente.

A agressão custou caro. “Limpei banheiro, passei rodo no pátio”, disse o aluno. E não adiantou reclamar para a mãe. “Eu assino embaixo, para mim não tem problema nenhum. Ele tem que rever o que ele fez”, disse a mãe do adolescente.

Punir alunos com problema de indisciplina faz parte da realidade de uma escola há cinco anos. O projeto piloto desenvolvido lá deu tão certo que virou lei municipal. Agora, todas as instituições de ensino de Campo Grande são obrigadas a aplicar medidas educativas para quem comete alguma infração no ambiente escolar.

O projeto é uma iniciativa da Promotoria da Infância e Juventude. Antes, os casos de indisciplina levavam até um ano para ter uma decisão judicial, hoje não. “Dentro desse programa, com a força dessa lei, nós aplicamos quase que imediatamente, dentro de 48 horas, no máximo, o aluno está sendo levado a uma ação pedagógica, para reparar esse dano”, afirmou Sérgio Harfouch, promotor da Infância e Juventude.

Na escola Ada Teixeira, a palavra “dano” já foi excluída do vocabulário. “Não tem mais briga, não picha mais a escola, não agride professor”, contou o aluno. “Está mais equilibrado o comportamento dos alunos”, disse outra estudante.

“O aluno hoje respeita a escola, o aluno se respeita, os pais respeitam a instituição, então nós temos uma tranquilidade muito grande em relação a isso”, afirmou Valson Campos Dos Anjos, diretor da escola.

Quem já chegou a levar até bebida alcoólica na escola que o diga. “Eu pensava que podia tudo, agora eu sei que tem um limite. Qualquer coisa que eu fizer errado, eu tenho que pagar pelo o que eu fiz”, disse o aluno. A punição ainda ajudou o jovem a se livrar da bebida.

A mãe agradece. “O aluno cometer um erro e não pagar por aquilo, isso sim é grave. Mas se ele cometeu um erro e ele está pagando, ele está refletindo sobre aquilo, ele vai ter a oportunidade de aprender. Deveriam todas as escolas fazerem isso”, falou a mãe do aluno que levou bebida alcoólica para a escola.

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Cidade da Nova Zelândia tem banco que usa o tempo como moeda de negócios

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O banco de tempo de Lyttelton foi inaugurado em 2005 e já conta com 800 integrantes.

Lyttelton é uma cidade portuária na Nova Zelândia. Além de suas belas paisagens, o local tem um diferencial: um banco de tempo. O negócio social permite que os moradores façam negociações tendo o tempo como moeda de troca.

O banco de tempo de Lyttelton foi inaugurado em 2005 e criado por Margaret Jefferies, com base em um conceito criado pelo professor norte-americano Edgar Cahn. A ferramenta ajuda a conectar pessoas, incentivar o voluntariado, promover o senso de comunidade e ainda permitir que as pessoas obtenham serviços, sem que seja necessário usar dinheiro para obtê-los.

Usar o tempo como moeda tem provocado grandes mudanças na cidade neozelandesa. Cinco anos após a criação do banco, a cidade de Christchurch, nos arredores de Lyttelton, sofreu um grande terremoto. Após o desastre, a quantidade de pessoas envolvidas e dispostas a doarem tempo para ajudarem na reconstrução e resgate das cidades cresceu absurdamente.

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Logo após o terremoto, os 400 membros do banco já somavam mais de 30 mil horas de crédito. Atualmente, já são 800 pessoas integrando essa rede de trocas de serviços e voluntariado. Todas as iniciativas têm o mesmo peso. Assim, não importa se o tempo foi gasto em um jardim ou cuidando de uma criança, o crédito de horas é exatamente o mesmo do que foi gasto.

Em entrevista ao The Guardian, o pesquisador e membro do conselho do TimeBanks EUA, Chris Gray, explicou que a ferramenta tem inúmeros benefícios e é o formato de uma economia do futuro. “A troca de habilidade e conhecimentos promove relacionamentos de confiança e reciprocidade”, informou o cientista. Para ele, esses são itens fundamentais para o fortalecimento e crescimento das comunidades.

Os bancos de tempo são alternativas excelentes também para auxiliar o governo a suprir necessidades de serviços, principalmente diante dos desafios do futuro, com a expectativa de problemas consequentes das mudanças climáticas e dificuldades econômicas e sociais.

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Canadenses estão cortando notas de 20 dólares ao meio

Canadenses estão cortando notas de 20 dólares ao meio

A prática não e ilegal no país, mas está causando descontentamento dentro do Banco Nacional do Canadá

Por Ana Luísa Fernandes

Na cidade de Gaspé, que fica na província canadense de Quebec, os habitantes locais resolveram criar um novo sistema de moedas, o “Demi”, que significa “metade” em francês. As notas de 20 dólares, quando cortadas ao meio, têm valor de 10. As de 10, cortadas, passam a valer 5. A intenção é incentivar o comércio local: quando alguém compra comida de um mercado da cidade com o Demi, por exemplo, os donos do comércio têm que utilizar o dinheiro cortado. E o único local em que é possível fazer compras com notas rasgadas ao meio é em Gaspé.

“O Banco do Canadá acredita que escrever, fazer marcas ou mutilar notas é inapropriado, já que elas são um símbolo do nosso país e fonte de orgulho nacional”, disse a porta-voz do banco, Josianne Ménard. No Brasil, a prática não funcionaria: rasgar dinheiro é considerado crime, e prevê detenção de seis meses a seis anos.

Essa não é a única iniciativa que visa a criar um novo sistema de moedas: o HOURS, criado na cidade de Ithaca, em Nova York, utiliza as suas próprias notas, produzidas dentro da comunidade. “Enquanto os dólares nos deixam mais dependentes dos bancos e das corporações transnacionais, o HOURS reforça e expande o comércio local, o que é mais responsável segundo as nossas preocupações ecológicas e de justiça social”, afirma Paul Glover, que iniciou o programa.

A grande vantagem do Demi é que falsificá-lo é tão difícil quanto falsificar qualquer dólar canadense. Uma das grandes preocupações de sistemas que utilizam moedas “caseiras” é que elas são facilmente forjadas. O Demi exclui esse problema. Em contrapartida, apresenta outro, que pode ser ainda mais preocupante: qualquer pessoa que possua um dólar canadense, de qualquer parte do país, pode fazer um Demi e utilizá-lo em Gaspé. O difícil para os comerciantes locais é ter onde gastar esse dinheiro depois.

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A volta da cultura do “faça você mesmo”

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Um retrato dos moderninhos do século 21: para ser cool hoje em dia, é preciso viver como antigamente. Uma das grandes inspirações desse pessoal é a cultura do “do it yourself” (DIY), ou faça você mesmo, que teve origem no pós-guerra dos anos 50.

Por Ana Prado

O DIY fazia referência a projetos de reparos caseiros que as pessoas faziam sozinhas, usando os materiais que tinham à sua disposição. Nas décadas seguintes ao seu surgimento, o movimento começou a ser mais associado à cultura punk e alternativa e à produção musical e midiática independente (discos, rádios piratas e zines, por exemplo). Mas a sua força nos anos 2000 está mesmo é nos aspectos do dia a dia: as pessoas estão cada vez mais fazendo sua própria roupa, cerveja, sapatos e até móveis. A ideia continua a mesma: você pode muito bem construir, modificar ou consertar suas coisas sozinho, sem ter de recorrer à indústria ou a profissionais caros – no máximo, pode contar com a ajuda de um site como o DIY Wiki ou da revista alemã Landlust, publicação que ensina as pessoas não só a fazer seu próprio pão, mas a construir seu próprio fogão. Tudo em uma vibe saudosista que tenta escapar do stress da vida moderna e da escravidão à tecnologia. Essa nostalgia tem feito sucesso: a Landlust, lançada em 2005 por uma pequena editora de comércio agrícola, tem agora uma circulação de 800 mil exemplares. (A Veja, revista de maior circulação no Brasil, cuja população é duas vezes maior do que a alemã, tem tiragem de pouco mais de 1,2 milhão exemplares).

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Para entender melhor o movimento do DIY, a SUPER conversou com um especialista no assunto: George McKay, professor de estudos culturais da Universidade de Salford (Inglaterra) e autor do livro “DIY Culture – Party & Protest in Nineties Britain” (Cultura DIY – Festa e protesto na Grã-Bretanha dos anos 90). Ele falou sobre a origem do movimento e sobre as contradições que o acompanham hoje – já que, apesar de ter surgido como uma reação ao consumismo, o DIY virou algo fortemente comercial graças ao status descolado que ganhou.

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Como foi a origem do movimento DIY? Quem foram as pessoas que o começaram e qual era a sua filosofia?
Eu acho que voltar ao período de austeridade do pós-guerra na Grã-Bretanha dá uma boa noção da história recente deste país, porque então, na década de 1950, a necessidade, a criatividade, a juventude e as novas músicas estavam começando a se combinar em uma espécie de revolução da juventude. A música skiffle – uma espécie de mix de jazz popular/folk/blues fácil de tocar – foi um exemplo real dos primórdios da cultura musical do DIY, por causa dos instrumentos que as bandas de skiffle tocavam. Eram todos feitos por eles mesmos usando materiais da vida doméstica diária. A tábua de lavar e alguns dedais foram usados para percussão, uma caixa grande de madeira fina e um cabo de vassoura faziam um contrabaixo. Então você só precisava de uma guitarra barata, um par de acordes e muita atitude, e tinha um tipo de banda rock’n’roll caseira!

Como aparece uma consciência mais reflexiva à medida que o movimento se desenvolve ao longo das décadas a partir dos anos 1950, as gerações posteriores muitas vezes, clamaram por uma filosofia mais política, que normalmente se associa a algumas vertentes do pensamento anarquista, com o anti-mercantilismo, a ajuda mútua, o esforço coletivo e práticas sociais alternativas.

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Esse movimento está se popularizando em muitos lugares, inclusive no Brasil. Por que as pessoas estão se interessando mais por isso agora?
Isso tem a ver, em parte, com uma reação contra a cultura de massa, a mídia do espetáculo e das celebridades e a disseminação do consumo tecnológico – mesmo que tenhamos de admitir que os defensores do DIY também usam esses mesmos meios para se comunicar e organizar sua cultura.

Quais são as principais diferenças entre DIY de hoje e do passado? A filosofia continua a mesma?
Alguns aspectos da antiga contracultura podem ser vistos no contexto do DIY, como as ocupações de espaços abandonados e festivais abertos. Havia um esforço impressionante para a construção de formas alternativas de viver em um prazo mais longo. Mas é possível que nem todos estes tipos de espaços estejam disponíveis hoje.

Você vê algum tipo de nostalgia nessa tendência atual?
Bem, sim, mas também gosto de idéia de que isso possa ser uma “nostalgia crítica”, o que nos permite considerar a retrospecção da nostalgia não (apenas) como algo indulgente, mas também como algo potencialmente historicizante. Dessa forma, novas gerações podem ser capazes de aproveitar as experiências dos mais velhos, e as gerações mais velhas podem se inspirar com a energia e justiça da juventude de hoje. O ideal é que estejamos abertos e dispostos a sair de nossa zona de conforto.

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Existe alguma relação entre a cultura do DIY atual e um retorno da cultura hippie ou naturalismo?
Isso depende. Se hoje o DIY é uma espécie de versão consumista da visão que se tem sobre os anos 1960 ou 1970, então ela não deve ser de muita utilidade. Se as gerações mais novas são capazes de recorrer a aspectos mais radicais dessas décadas, abordando ao mesmo tempo as suas próprias questões urgentes com criatividade e energia, bem, isso seria bom para eles e para nós.

Podemos ver que os chamados “hipsters” de hoje têm uma queda por fazer suas próprias coisas ou por ter objetos que parecem terem sido feitos em casa. Por que você acha que isso está acontecendo?
Você não tem que ser um situacionista para reconhecer que a mercantilização da rebeldia e atitude vende (mas ajuda?). É o que a banda punk inglesa The Clash cantou, em 1977: “Huh, you think it’s funny / turning rebellion into Money” (“Huh, você acha que é engraçado / transformar rebeldia em dinheiro”). A estética DIY é atraente e reconhecidamente ‘cool’ e isso pode fazer com que seja também rentável, mesmo que seja uma contradição porque o DIY tinha a ver com a cooperação e não a exploração ou a cultura de lucro.

fonte: Revista Superinteressante, edição 296, Outubro de 2011.
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Quando o povo se organiza, sem líderes

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Os protestos dos estudantes de São Paulo fizeram o governo voltar atrás e derrubaram o secretário de educação. Sem lideranças nem estrutura organizacional, conseguiram seu objetivo. Como isso foi possível? Uma nova ciência explica. Veja nesta reportagem de 2013, feita à luz dos protestos históricos de junho daquele ano.

Por Alexandre Versignassi

Um líder de punhos cerrados, discurso inflamado, berrando para uma multidão. Essa era a imagem definidora de qualquer movimento popular. Agora não: “Os protestos parecem sem liderança, fora de controle – um enxame de pequenas causas sem nenhum princípio organizacional”, escreveu o americano Steven Johnson, um escritor especializado em movimentos sociais. Sim, a essa altura você sabe disso de cor e salteado. O que você talvez não saiba é que Johnson não está falando aqui sobre os protestos do Brasil. Nem sobre os da Turquia, o Occupy Wall Street ou a Primavera Árabe. Ele escreveu isso há 14 anos. Em 1999, a Organização Mundial de Comércio estava organizando uma série de conferências em Seattle. E as pessoas foram para a rua protestar contra a OMC, sem que houvesse líderes ou partidos políticos por trás da coisa. Nem uma causa propriamente dita. “Eram pequenos grupos de afinidade representando causas específicas – anarquistas, ambientalistas, sindicatos”. A única coisa que unia esses grupos era a ideia de que o comércio global criava mais problemas do que soluções. A ver: para os sindicatos, as multinacionais tiravam empregos dos EUA ao transferir fábricas para outros países, a fim de gastar menos com salários. Para os ambientalistas, elas poluíam. Motivações bem diferentes. Igual o que está acontecendo agora.

Quem tomou praticamente todas as grandes cidades do Brasil não tinha uma cartilha unificada de reivindicações. Mas, braços dados ou não, os manifestantes eram todos iguais no que realmente contava: tinham ido para a rua a fim de serem vistos e ouvidos. E, mais importante, não estavam seguindo ordens de líderes. Era cada um por si e a multidão por todos.

Essa é a grande novidade por trás de tudo o que está acontecendo agora. Pela primeira vez, os figurantes são os protagonistas dos movimentos sociais. Não há líderes. Nem ideologias predominantes. Tudo isso é tão recente que quem explica o fenômeno é uma ciência nova, que mal saiu das fraldas. Uma ciência multidisciplinar que começou não com um físico, um matemático ou um biólogo. Mas com um humorista.

Um humorista húngaro: Frigyes Karinthy. Frigyes era um escritor de contos engraçados, da década de 1920, e que hoje seria diagnosticado com Transtorno de Déficit de Atenção (sempre esquecia dos compromissos e tinha problemas sérios com prazos). Mas até que era produtivo: em seu 46º livro, uma coleção de 52 contos, tinha um particularmente original. Chamava Correntes, e dizia o seguinte: “Para mostrar que as pessoas de hoje estão mais próximas do que nunca umas das outras, um dos caras da turma sugeriu um teste. Apostou que qualquer um dos 1,5 bilhão de habitantes da Terra [era 1929] estava ligado a ele por uma distância de, no máximo, cinco indivíduos”.

Então o personagem imagina um operário da Ford e tenta ver qual é a conexão entre ele próprio, um sujeito de Budapeste, e o trabalhador braçal de Detroit, a meio mundo dali: “Esse operário conhece o diretor da fábrica dele. É um fato. Esse diretor provavelmente conhece o Henry Ford. O Ford é amigo do presidente da Hearst, a editora de jornais. E o presidente da Hearst, no ano passado, conheceu o Árpad Pásztor, que é muito amigo meu!”. Pronto: cinco “graus de separação” entre o personagem do café em Budapeste e o operário da Ford.

Esse é o primeiro registro escrito daquilo que você provavelmente conhece como “seis graus de separação”. E você conhece como “seis graus”, e não “cinco”, por causa de um psicólogo de Harvard, Stanley Milgram.

Milgram era filho de húngaros. E os livros humorísticos de Frigyes eram tão populares na Hungria do começo do século 20 quanto os vídeos do Porta dos Fundos são no Brasil do século 21. Talvez Milgram tenha ouvido sobre o conto em algum almoço de domingo quando era pequeno. Talvez a ideia dos “graus de separação” já fosse conhecida na Hungria antes do livro – os jogos mentais, afinal, são para o húngaros mais ou menos o que o samba é para nós: uma questão de identidade nacional (tanto que eles inventaram o cubo mágico…).

De um jeito ou de outro, a ideia chegou até Milgram. E em 1967 ele fez um experimento para testar quantos “graus de separação” haveria entre duas pessoas que não se conhecem. Assim: mandou para 160 pessoas pelo correio a foto de um amigo dele, que era corretor da bolsa em Boston. Essas 160 pessoas viviam em Omaha, Nebraska – que fica a 1.500 quilômetros da capital do Massachusetts. Junto com a foto, ia o nome e o endereço do tal corretor mais as instruções do teste: quem recebesse a carta e conhecesse pessoalmente o sujeito deveria mandar a carta para ele.

Quem não reconhecesse o amigo de Milgram (na prática, todo mundo), deveria mandar a carta para algum amigo que talvez soubesse quem fosse o cara – um conhecido de Boston, por exemplo. O senso comum diz que um teste desses só podia dar em água. Os colegas de Milgram também. Mas em questão de dias chegou a primeira carta para o corretor, vinda de alguém que ele realmente conhecia. A correspondência tinha passado só por dois intermediários. Ou seja: alguém de Omaha que recebeu a carta conhecia alguém que conhecida alguém que conhecia o cara de Boston. E chegaram mais cartas. E mais cartas… No final, 42 das 160 alcançaram o amigo de Milgram por essa via. E o número médio de graus de separação foi de 5,5. Basicamente o que Frigyes tinha imaginado. Uau.

Milgram arredondou o número para seis. E a coisa entrou para o folclore moderno como “seis graus de separação”. O psicólogo de Harvard, diga-se, nunca usou a expressão “graus de separação”. Esse foi o título de uma peça da Broadway dos anos 90, inspirada pelo estudo de Harvard. A peça, depois, inspirou uma piada. Em 1994, um grupo de estudantes mandou uma carta para o programa de TV do comediante americano Jon Stewart dizendo que “qualquer pessoa no mundo está a no máximo seis graus de separação de Kevin Bacon”. É que Bacon teria feito tantos filmes que fatalmente trabalhou com muita gente. Então qualquer um conheceria alguém que conhece alguém (…) que trabalhou com ele. A piada era ok, mas cientificamente imprecisa: a conclusão de Milgram lá atrás era que a regra valia para qualquer pessoa, claro; não só para o ator de Footloose. Mas foi desse jeito, ilustrada pelo ator da segunda divisão de Hollywood, que o meme ganhou o mundo. O mais importante ali, porém, era outra coisa: a ideia dos seis graus de separação mostrava que os seres humanos, de alguma forma, estão conectados em rede.

Foi o que um matemático da Universidade Cornell percebeu quando ouviu sobre os “graus de separação”, numa conversa casual com o pai, no final dos anos 90 – não por coincidência, bem quando o meme Kevin Bacon estava se espalhando. Duncan imaginou que o conceito por trás dos seis graus de separação poderia trazer a chave para um mistério que ele tentava decifrar havia anos: a sincronicidade entre insetos.

O assunto é mais legal do que parece, você vai ver.

Para entender de que tipo de “sincronicidade” estamos falando aqui, pense num aplauso de multidão no meio de um show. Não num aplauso formal, que as pessoas dão por educação quando a música termina, mas num espontâneo mesmo, tipo os que acontecem de vez em quando no meio da música. É praticamente impossível saber onde a coisa começou. O que a multidão percebe é que, de uma hora para outra, está todo mundo aplaudindo.

Isso acontece com alguns vaga-lumes também. Uma espécie do sudeste da Ásia tem um ritual indiscernível de mágica: grupos de milhões de vaga-lumes machos se reúnem em volta das árvores e, de uma hora para a outra, começam a acender e apagar seus rabos exatamente ao mesmo tempo, numa sincronia perfeita. O enxame vira uma luz pulsante, visível a quilômetros de distância. Um flashmob artrópode.

Eles fazem isso para avisar as fêmeas que estão ali (e com a corda toda!). A piscada em uníssono funciona como um letreiro luminoso, que avisa onde é a balada do acasalamento.

A natureza está cheia de exemplos parecidos: as sardinhas tentam enganar os predadores formando cardumes tão densos e sincronizados que, para um tubarão desavisado, a coisa parece mais uma baleia. Até o canto dos grupos de grilos parece seguir as ordens de um maestro. A natureza é terrivelmente sincronizada.

E, quando Duncan Watts ouviu do pai a história dos seis graus, percebeu que ela podia ser útil para explicar tudo isso. Ele sabia que a única coisa que um vagalume ou uma sardinha tem noção na vida é o comportamento dos outros vaga-lumes e sardinhas imediatamente ao redor dele. “Se o meu vizinho acender o rabo, vou ligar o meu”, pensaria o vaga-lume, se tivesse um cérebro capaz disso. Ele não pensa, claro, só imita por instinto.

(Plantão Darwin: os vaga-lumes que nasceram com esse instinto se reproduziram mais do que os vaga-lumes comuns, já que atraíam mais fêmeas com seu show de luzes involuntário; e uma hora os insetos sincronizados tinham deixado tantos descendentes a mais que viraram a população dominante por lá. Essa é a explicação evolutiva).

Mas o que importa é o seguinte: Watts passou a entender que os vaga-lumes de uma ponta do enxame estavam a “poucos graus de separação” dos da outra ponta, a milhões de indivíduos de distância. Para um matemático isso faz toda a diferença: mostra que os vaga-lumes funcionam em rede.

Numa rede, de computadores, por exemplo, cada uma das máquinas está indiretamente conectada a todas as outras máquinas do mundo. Isso fica bem visível nas redes de torrents. Para quem não sabe: torrents são arquivos que as pessoas trocam pela internet – filmes, por exemplo, geralmente de forma ilegal. Se você tem um filme no computador e joga ele numa rede de torrents, todas as pessoas do planeta que derem um comando para baixar o seu filme vão se conectar à sua máquina. O nome técnico disso é rede peer-to-peer (de “par para par”). De par para par porque não existe uma central no meio do caminho. É um computador “falando” direto com o outro.

Bom, os enxames sincronizados de insetos são grandes redes peer-to-peer: a informação flui só “entre pares”. No caso dos vaga-lumes, os vizinhos imediatos. Mas, como eles estão conectados em rede, a informação de quando acender e apagar a luz flui com uma rapidez extrema pelo enxame todo. Daí a sincronicidade. Duncan demonstrou matematicamente esse tipo de fluxo (o que não é nada simples). E essa foi sua descoberta.

O matemático gostou tanto dessa história de redes que acabou deixando os insetos de lado e passou a estudar outro animal que de vez em quando forma enxames: os humanos. Nisso, acabou praticamente inaugurando um novo ramo da ciência: a chamada “nova ciência das redes”. Não podia haver época mais propícia. Com o avanço da internet, coisas que antes eram abstrações matemáticas, como “pontos de rede” e “links” já tinham entrado para o léxico popular. E um enxame de cientistas passou a estudar redes – sejam as de computador, sejam as de seres humanos.

Mas as redes humanas tinham um problema: historicamente, nunca formamos grandes “inteligências coletivas”, como os vaga-lumes, grilos e sardinhas. Sempre precisamos de líderes. Se os líderes são absolutistas, nos organizamos naquilo que os cientistas dessa nova disciplina chamam de “redes centralizadas”: ou todo mundo obedece um comando central, ou tem a cabeça cortada. Caso da Coreia do Norte, para ficar num exemplo só. O resultado dessas redes é o comportamento padronizado. E o isolamento. Quem está numa rede extremamente centralizada nem tem contato com outras formas de pensar – tanto que, se meia dúzia de norte-coreanos fugidos para o vizinho do sul resolvem abrir a boca para falar como viviam, vira livro (como o ótimo Nada a Invejar, de Barbara Demick). Em suma: eles estão conectados em rede, mas é como se cada norte-coreano estivesse ligado só ao gordinho Kim Jong-un e às insanidades que ele prega. Outro tipo de rede é a mais convencional: a que tem vários centros, e onde cada pessoa participa de mais de um. Se você é skatista e advogado, já faz parte de duas redes, a de quem anda de skate e a da OAB, cada uma com seus líderes de ocasião. Se você estuda na USP e é membro do Movimento Passe Livre (MPL), mesma coisa. A “rede de vários centros”, enfim, é basicamente a vida como a conhecemos.

Quer dizer… Não. Não é mais.

O que está acontecendo agora é o afloramento de uma nova rede: uma que une basicamente todo mundo. A internet, e, principalmente, as redes sociais, tornaram a disseminação de informação peer-to-peer, de pessoa para pessoa, tão fugaz quanto a dos vaga-lumes baladeiros. Os graus de separação entre as pessoas dentro do Facebook, algo que pode ser medido automaticamente, é de 3,75. O mundo ficou menor – se algum amigo seu vai morar no exterior, continua participando da sua vida tanto quanto antes, via Whatsapp, Face, Instagram.

Isso acelerou o mundo. Aquele meme do Kevin Bacon chegou ao Brasil três, quatro anos depois de ter aparecido na TV americana. Hoje, chegaria em 3 segundos. Uma ideia também não precisa mais “subir na hierarquia” de um sindicato ou de um partido político para chegar a todo mundo. Se ela for boa o bastante, vai alcançar milhões de mentes em questão de minutos. É por isso que hoje conseguimos formar “enxames” sem a intermediação de líderes. E os movimentos de junho são a prova empírica disso.

Havia, sim, várias reivindicações, de vários grupos. E, claro, foi o MPL quem deu o pontapé inicial. Mas o que unia as pessoas era outra coisa. “O que aconteceu no Brasil na semana de 17 de junho foi o maior enxameamento de pessoas de todos os tempos, pelo menos com a característica que teve aqui”, diz o físico Augusto de Franco, um especialista na nova ciência de redes. Por “característica”, Augusto exemplifica: “Não existia um objetivo comum, como no Egito, que era derrubar uma ditadura. O que havia era uma insatisfação geral e difusa contra o ‘sistema’. Só que para cada um o ‘sistema’ era uma coisa diferente”. Em suma: o que levou as pessoas para a rua foi essa rede nova, hiperdescentralizada, e que dissemina os seus e os meus pensamentos à velocidade da luz. Pois é. Se você saiu para protestar, contra o que quer que seja, parabéns. Você participou não só de um momento ímpar na história do País. Foi protagonista do começo de um novo capítulo da história da humanidade. O capítulo que está sendo escrito agora. Na rua.

Para Saber Mais

Linked – A Nova Ciência das Redes
Albert-Laszlo Barabasi, Fronteira do Conhecimento, 2009

O Seis Graus de Seperação
Duncan Watts, Leopard, 2009

http://super.abril.com.br

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Povoado argentino impede construção de fábrica da Monsanto

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Com manifestações e mais de 730 dias de barricadas, povoado argentino impede construção de fábrica da Monsanto

“Chamam de progresso, mas os lucros são privados e nos territórios ficam a doença e a devastação”, diz um dos moradores; “Já nos deram golpes e balas de borracha. Não me importo. Vou deixar a vida pelos meus filhos”, afirma outro.

Do Opera Mundi

Formado por donas de casa, funcionários públicos, empregados do setor privado, jovens e adultos, o movimento Assembleia das Malvinas Argentinas – cidade da província de Córdoba – completou em setembro mais de 730 dias combatendo a Monsanto, a maior corporação agrícola mundial. “Chamam de progresso, mas os lucros são privados e nos territórios ficam a doença e a devastação”, diz um dos moradores.

A região é cercada por plantações de transgênicos e fumigações. O impacto na vida das pessoas é sentido pela contaminação vivenciada por familiares, vizinhos e no próprio corpo. Aos poucos, os moradores da região começaram a se informar sobre a empresa e o impacto que a fábrica de milho transgênico teria naquela sociedade. Então decidiram, em 19 de setembro de 2013, realizar o bloqueio da entrada da fábrica e, mesmo com a repressão da polícia e do governo local, dois anos depois, seguem barrando os objetivos da corporação.

O fato, estranhado pela própria empresa que “reconheceu nunca ter passado por semelhante situação”, como afirma um dos moradores, é objeto de estudo para acadêmicos e é considerado um importante caso testemunhal para outros movimentos, além de mau exemplo por governos e empresas. Para a Monsanto, é uma manifestação que impede “o direito ao trabalho”.

Para retratar essa experiência, o jornalista argentino Darío Aranda foi até a localidade e registrou as impressões dessas pessoas que lutam contra uma causa supostamente perdida e estão ganhando. Segue o relato:

Televisão

A população das Malvinas Argentina se inteirou pela televisão de que teria a Monsanto como vizinha. Foi em 15 de junho de 2012, quando a presidente Cristina Kirchner informou, falando dos Estados Unidos, que a multinacional lhe havia confirmado a instalação de uma fábrica na localidade de Córdoba. Só sabiam disso o prefeito, Daniel Arzani, do partido UCR (União Cívica Radical UCR), e seus colaboradores mais próximos.

Eli Leiria escutou o anúncio na televisão. Mas deu por certo que se tratava da localidade de mesmo nome na Província de Buenos Aires. Até que lhe avisaram que era a poucas quadras de sua casa. Não sabia nada sobre a Monsanto. No dia seguinte, perguntou a um estudante universitário, da casa de família onde trabalhava, e a resposta a deixou gelada: “Você está frita”, ele disse. E lhe passou os primeiros dados da história da empresa.

Começou a ler, a se informar, a perguntar. E já não lhe restavam dúvidas. “Aí, acordei. Alguns vizinhos diziam que ia trazer mais trabalho, eu lhes respondia que sim. Mais trabalho para os oncologistas, os médicos, os coveiros”, ironiza, mas não esboça um sorriso.

Raquel Cerrudo conta que havia deixado a capital cordobesa em busca de tranquilidade. “Quer melhor que uma pequena cidade nos arredores?”, diz. Passados seis meses da mudança, o anúncio da Monsanto. Raquel via a televisão e chorava. Sabia o que era a Monsanto por um trabalho com uma bióloga crítica do modelo agropecuário. Conhecia pouca gente no bairro. Começou a falar com os lojistas, no açougue, no armazém, a trocar informações. Assim conheceu outras pessoas inquietas com o tema e se inteirou de uma palestra do biólogo Raúl Montenegro. E também de uma manifestação na capital, onde foi com uma faixa da cidade de Malvinas. Lá, conheceu Ester Quispe, hoje também parte da assembleia. Veio a primeira reunião e o contato com dezenas de vizinhos, o segundo encontro e o nascimento do movimento.

Despertar

Silvana Alarcón cresceu em Malvinas. Sotaque cordobês inconfundível, lembra que não sabia o que era a Monsanto, como a grande maioria de seus vizinhos. A princípio acreditou no discurso de investimentos, de trabalho, mas também começou a escutar – primeiro superficialmente – quem era a empresa, sua história de denúncias e contaminação. “Começamos a reunir os vizinhos, a ler, ter outras informações. Aos pouquinhos fomos aprendendo”, recorda. Também lhe causou impacto o modo como a empresa começou a intervir no bairro, prometendo trabalho. Num terceiro momento, começaram a problematizar a situação atual, do povo rodeado por cultivos transgênicos e fumigações. “E nos demos conta de que havia muitas crianças doentes, com lúpus, malformações, problemas respiratórios, broncoespasmos. E se a isso acrescentássemos a Monsanto… fomos nos dando conta de que iria ser pior”, explica.

A mobilização se deve muito à visita de biólogos, médicos, advogados e também de movimentos e ativistas de outras cidades. A população avaliou também a proximidade da fábrica com a escola, conhecida como “La Candelária”, onde o filho de Alarcón estuda, e de onde se pode ver o prédio da Monsanto.

Ela lembra que a justiça havia freado a obra, mas a fábrica continuava em andamento. Sentia impotência ao ver que a empresa seguia com a construção. “Faziam o que queriam. Até que demos um basta, aqui não entra mais ninguém”, relata.

E nasceu o bloqueio. Setembro de 2013. Não foi sem consequências. Várias ações repressivas, policiais, balas de borracha, bandos da UOCRA (sindicato dos operários da construção civil na Argentina), pancadaria. Recorda-se de uma em particular. Ela estava em sua casa e escutava os disparos. Seus amigos e parentes estavam sendo alvo da repressão. Chorava de impotência. Espancaram seu irmão e seu marido. “Podia acontecer qualquer coisa”, afirma, e a voz fica embargada. “Em primeiro lugar, como mãe, está a saúde de meu filho. Não importa o que tenhamos de fazer. E não vamos recuar”, avisa.

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Saúde

Em 2007, a dona de casa Eli Leiría teve seu primeiro choque com o modelo agropecuário. Começou a ter vômitos, diarreia, perdeu muito peso e passou a ficar fraca. O médico não encontrava nada, mas ela sentia que não tinha forças nem para se levantar da cama. Davam-lhe injeções, levantava-se um pouco e voltava a cair. Foi a outro médico. Ele lhe disse que os exames estavam bem. Ela sentia que estava morrendo.

Até que ligou os pontos. Ao lado de sua casa eram reciclados galões de herbicidas. Na realidade, o processo era mais que rudimentar. Eram levados sem lavar, cortados com uma serra de açougue e moídos. O terreno vizinho estava repleto de recipientes, e justo colado ao seu quarto. As árvores e todas as suas plantas morriam. Contou ao médico e ele não teve dúvidas. Mandou-a fazer novos exames. Mais complexos. Encontraram herbicidas no sangue dela. Não se lembra dos nomes, mas, sim, das cifras: “O máximo tolerado pelo organismo é 0,3%. Eu tinha 27”.

Perguntou ao médico como iria se curar. E se fez um longo silêncio. Ele lhe respondeu que nada podia ser feito. Que era preciso esperar. Disse-lhe que era como um tornado. A tempestade passa, mas as sequelas ficam. E as doenças podem aparecer meses ou anos depois. Dois anos depois foi constatado um enfisema pulmonar. O médico lhe perguntou se fumava muito. E ela nunca havia acendido um cigarro.

De pura impotência, começou a fumar nesse mesmo dia. “Eu escolho como morrer”, disse.

Diagnosticaram uma alteração no seu sistema nervoso e no aparelho digestivo. E lhe deram um coquetel de medicamentos. “Vou terminar me matando com remédios. Não quero isso”, avisou.

E o anúncio da Monsanto foi a cereja do bolo. Aderiu à segunda reunião de moradores, era o gérmen do movimento. No dia seguinte, foi ver o prefeito. “Não, querida. Não te preocupes. A empresa trará trabalho. Acontece que há pessoas que não querem trabalhar, e se opõem”, foi a resposta que lhe deu Daniel Arzani.

A chave, outra vez, foi a informação. Leu muito. Foi a debates. Viu documentários. Pensou em seu filho e se decidiu: não queria a empresa em seu bairro.

Contaminação

Silvia Vaca, 52 anos, é empregada municipal, nascida e criada nas Malvinas. O primeiro aviso sobre o modelo agropecuário veio pelo marido. Caminhoneiro, transportador de cereais. Costumava queixar-se do cheiro da roupa quando voltava do trabalho e da forte dor de cabeça. Silvia colocava as peças na máquina de lavar e tinha de enxaguá-las duas vezes. Odor penetrante.

O segundo veio quando a fossa séptica de sua casa ficou cheia. Chegou o caminhão limpa fossa e o funcionário chamou a atenção para a ausência de insetos e bactérias no material orgânico coletado. Perguntou se usavam algum produto químico forte. Silvia pensou em voz alta e, não, só água sanitária de vez em quando.

Terceiro aviso: a repentina pneumonia do marido. Internação, depois tratamento e, em poucas horas, risco de vida. Os médicos a tratavam com distanciamento, perguntavam e reperguntavam. Acreditavam que ela o tinha envenenado. Voltou a sua casa, deu a má notícia à família. Aí se deu conta. Voltou ao hospital e contou que o marido transportava cereais. Também colocava as famosas pastilhas de fosfina no caminhão para protegê-los dos insetos. Estava se envenenando.

Último aviso: seu filho, então estudante de agronomia, lhe deu o documentário “O Mundo Segundo a Monsanto”.

Quando se anunciou a instalação, foi uma das moradoras que tiveram o sangue analisado. Confirmou o que se temia. Tinha agrotóxicos. “Vivo no centro do povoado, onde em teoria deveria haver menos produtos químicos. O que resta para quem vive diante das fumigações? Estamos todos envenenados”, afirma.

Foram coisas demais. Ela se uniu à assembleia.

Outra vida

Uma grande coincidência. Todos tiveram a vida mudada.

Soledad Escobar conta que teve discussões na escola (com a professora do filho, porque lhe dizia que “não podia envolver-se”), com amigos que trabalham no município e com vizinhos que já não a cumprimentam.

Beatriz Vega tinha uma livraria que também vendia vários outros produtos, na avenida San Martín, a principal, e a meia quadra da prefeitura. Punha na vitrine os cartazes que convocavam para a manifestação, entregava folhetos e afirma que passou a ser visada. Suas vendas começaram a cair, o filho de um vereador ameaçou queimar o local, os clientes de sempre já não entravam. Fechou o negócio. “A nossa vida mudou totalmente. O povoado se dividiu”, resume.

Lucas Vaca, boina clara, jaqueta de couro. Fazia dois anos que tinha retornado a seu bairro (esteve cinco anos fora), encontrou uma municipalidade nova e lhe chamou a atenção que, poucos quilômetros antes de chegar a Malvinas, não havia mais as árvores de antigamente à margem da Rota 88. A soja se estendia até a beira do acostamento.

Cursava o secundário para adultos. E também recebeu a notícia pela televisão, ao vivo. Alegrou-se pelos possíveis postos de trabalho. Até que alguém o alertou que nem tudo era como dizia a publicidade. Entrou na Internet, começou a ler, se deparou com o documentário “O Mundo Segundo a Monsanto” e não pode acreditar. Entrou também no site da empresa. E não queria cair em si. “Por dentro você diz que não podia ser tão mau. Custa a acreditar. Mas quanto mais eu lia, mais me convencia de como era mau”. Levava informações à escola e as professoras minimizavam suas críticas.

Começou a participar da Assembleia. A comprometer-se. Não parou mais.

Lamenta que muitos vizinhos se tenham distanciado. Mas outros se aproximaram. Com muitos conviveu na escola e até em bailes, mas algo os colocou em duas veredas distintas. Há uma situação que o impacta: “Não te olham na cara. Olham para o chão. Sabem que é ruim apoiar a Monsanto. Isso é impressionante”. Lucas diz que se lembra do que lhe disse certa vez o cientista Andrés Carrasco: olhar os corpos. Crianças com malformações, garotos jovens com câncer, mulheres com lenços na cabeça.

Eduardo Quispe ressalta que não há espaço de apoio à empresa. Mas, sim, contra. “As estatísticas são contundentes. Um total de 90% não a querem. Sim, há pessoas que dependem do Estado, mas não são um movimento permanente nas ruas”, esclarece.

Silvia Vaca se distanciou do irmão. Ele se tornou avô. E ela ainda não pôde conhecer seu sobrinho-neto. “São fraturas que vão ficando. Muitas famílias brigadas. É triste”, resume. E se lembra da boa relação que tinha com o prefeito, conhecem-se desde crianças, iam a almoços de família. Não mais.

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Votação?

Durante o primeiro ano de rejeição à Monsanto, a Assembleia exigiu o direito de votar sim ou não. Os três níveis de governo (municipal, provincial, nacional) se opuseram. O mesmo fez a empresa. Na atualidade, o movimento já não pede o voto. “Não se pode votar em um fato ilegal. O relatório de impacto ambiental deu negativo. A lei provincial de solos não permite que se instale aqui. A fábrica é ilegal”, esclarece Eduardo Quispe, menos de 40, boné com viseira e camiseta preta com o M da Monsanto e uma caveira.

Desde 8 de janeiro de 2014 a fábrica está judicialmente paralisada. E em 10 de fevereiro a província rejeitou o estudo de impacto ambiental.

Responsáveis

Soledad Escobar enumera as culpabilidades, das maiores às menores: prefeito, governador, presidente E lembra o exemplo de Río Cuarto, onde o prefeito vetou a instalação de uma estação experimental da Monsanto. E não se esquece quando o prefeito de Malvinas prometeu que, se o relatório de impacto ambiental desse negativo, ele cancelaria o projeto. Não cumpriu. “Ele nos enrolou”, resume.

Eli, a dona de casa, inverte a ordem. Acredita que o prefeito não tem capacidade para decidir pela Monsanto. Afirma que a presidente e o governador são os principais responsáveis. “Cristina lhe abriu a porta. Ela é a principal responsável”, afirma.

Debatem entre si. Não há acordo. Coincidem em que Arzani era um morador a mais, mas já não é. Muitos o conhecem de criança. Dizem que tem plantações de soja e que seus pais morreram de câncer.

Nas Malvinas nunca havia ocorrido uma passeata. Muito menos questionamentos ao prefeito, com mais de 15 anos no poder. Raquel e Vanessa Sartori fazem a leitura igual ao mesmo tempo. O prefeito nunca pensou que seria armada semelhante confusão para ele. Vanina Barboza complementa: “A Monsanto reconheceu que nunca havia passado por semelhante situação”.

Eser Quispe aponta para o prefeito: “Ninguém se mete na sua casa se você não abre a porta”, argumenta. Irrita-se porque ele agiu nas costas da população. Vanina Barboza, jovem estudante e porta-voz em várias ocasiões, garante que o prefeito não é tão inteligente para trazer a Monsanto. Aponta mais para cima: “Cristina os traz”. Recorda a primeira vez que falaram com os vereadores. Mencionavam os “transgênicos” e os funcionários de nada sabiam.

Alguém comenta que não têm educação. Silvia Vaca relativiza. “A presidenta e o governador são instruídos e abraçam a Monsanto. Muitos camponeses e indígenas não têm talvez educação formal, mas sabem o que é o modelo agropecuário e defendem a vida.”

O modelo

Vanesa Sartori explica com paciência professoral que a Monsanto quer fazer sua maior fábrica de milho transgênico em seu bairro, a 800 metros da escola e perto das casas. Para biocombustível, não para comida, e utilizará milhões de litros de água e pesticidas. Destaca que a empresa e o município estão contrariando leis que proíbem a instalação, enfatiza que o interesse da população é violado. Arremata: “Promete trabalho e progresso, mas é falso”.

Ariel Becerra põe ênfase na saúde. Alerta que já são uma localidade empesteada com agrotóxicos. E com a Monsanto as consequências podem ser multiplicadas.

Eduardo Quispe fala aos habitantes das grandes cidades. Pede-lhes que não se deixem enganar pelo verde da soja, explica que antes tudo era mata, e desapareceu. “Chamam de progresso, mas os lucros são privados e nos territórios ficam a doença e a devastação”. Afirma que é possível outro modelo, de soberania alimentar, alimentos saudáveis para a população.

Futuro

Sem consenso social e em ano de eleições, a Monsanto não pôde avançar durante 2015. Mas não se foi. Já deixou vir à tona que em dezembro apresentará um novo estudo ambiental. Quer construir em 2016. A empresa continua presente no bairro, com processos de sedução e promessas. Eli Leiría denuncia que a Monsanto compra apoios. Dois exemplos: doou o gerador para a cooperativa de eletricidade. Custou 60 mil pesos (R$ 26.400) e fizeram propaganda disso até no boleto que chega nas casas. A Monsanto financia oficinas e cursos em escolas da zona. Também na igreja adventista.

Leiría sonha que seu filho continue morando em Malvinas. Diz que aí estão suas raízes e que é injusto que por causa de uma empresa tenham de partir. Faustina Quispe (mãe de Eduardo e Ester), mulher idosa, contrapõe: “Se a Monsanto se instalar, não há futuro”.

Marcos Romero é nascido e criado em Malvinas. Está casado com Solead Escobar, também integrante da Assembleia. Têm quatro filhos que vão a “La Candelaria” (escola perto da fábrica em questão). Quase não falou durante a entrevista em grupo. Recorda que via em outras cidades pessoas que protestavam e bloqueavam estradas, e observava isso com uma mistura de preconceito e desinteresse. Até que se desatou o caso da Monsanto. “Agora nos atingiu. Já nos deram golpes e balas de borracha. Não me importo. Vou deixar a vida pelos meus filhos. Ela (Soledad) já sabe”, afirma. Sua esposa chora.

Lucas Vaca tem um olhar otimista. “Estamos fazendo o futuro todos os dias, lutando na rua, não permitindo que a fábrica se instale.” Eduardo Quispe vai além: “Os moradores estão convencidos. A Monsanto não tem chance conosco”.

Ester Quispe avisa que continuarão trabalhando no bairro, informando os moradores. Não baixarão a guarda. Continuam se reunindo todas as quartas-feiras e lembra da bandeira presente nas marchas: “Não à Monsanto em Córdoba e na América Latina”.

http://www.contraosagrotoxicos.org

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