Pesquisadores investigam longevidade do município amazônico de Maués

03.04.09 – Atualizado em 04.04.09 ]

Em Maués, idosos da floresta são tantos que causaram desconfiança da Previdência. Auditores constataram que todos os aposentados estavam bem vivos.

Às margens das águas negras do Rio Maués-Açu, ficam as comunidades típicas do interior da Amazônia. Vidas inteiras sem sair da floresta. Foi assim com o agricultor João Rocha, de 99 anos. Ele amanhece afiando o facão para mais um dia de trabalho na plantação de guaraná. É rotina há 40 anos. “Tenho 99 anos e estou trabalhando, graças a Deus”, diz.

Está lá na carteira de identidade: a data de nascimento é 2 de fevereiro de 1910. Quando se casaram, dona Zenaide era adolescente. Ele, homem maduro de 47 anos. A família cresceu: eles tiveram 13 filhos.

“Sou meio fraco”, brinca seu Rocha.

E seu Rocha não é exceção. No município de Maués, no interior do Amazonas, os idosos da floresta são tantos que causaram desconfiança. O número de aposentadorias chamou atenção do INSS. Por dois anos seguidos, auditores da Previdência foram a Maués para saber se havia algo irregular. De casa em casa, visitaram idosos com mais de 70 anos e constataram: todos os aposentados estavam bem vivos.

Proporcionalmente, o INSS encontrou no município o dobro de aposentados na comparação com Manaus. Ao todo, 1.692 moradores têm mais de 70 anos. Há mais homens idosos, o que também é incomum.

Com tantos idosos, a cidade teve que se adaptar. Criou atendimento médico e odontológico exclusivo para eles e um centro de convivência.

“Eu não me acho velho e nem tenho vergonha da juventude. Digo para meus colegas não se entregarem para a velhice”, conta seu Milton Martins, de 80 anos.

A mais nova terra da longevidade na Amazônia sempre foi conhecida como a terra do guaraná. Seu Rocha vive na comunidade de Camarãozinho. A descida do barranco para a plantação de guaraná pode parecer um obstáculo, mas não para esse senhor de 99 anos. O guaranazal é do tamanho de 25 campos de futebol. Seu Rocha percorre, por dia, quatro hectares, tirando o mato que atrapalha a produção.

“Eu aguento, graças a Deus. Tomo uma copada de guaraná”, revela o agricultor. A receita é prepara com guaraná em pó, xarope de guaraná, mirantã – uma raiz típica da região – e ainda castanha-da-amazônia, leite em pó, água e gelo.

Mas seria o guaraná um dos fatores que faz esta gente envelhecer tão bem? Doutor em gerontologia, o médico Euler Ribeiro é um dos maiores especialistas no envelhecimento do homem da floresta. Animado com o número de idosos em Maués, começa em julho uma pesquisa para descobrir as causas da longevidade na região. Uma das suspeitas recai justamente sobre o guaraná e sobre a alimentação rica e natural dos ribeirinhos.

“Nós temos o jenipapo, uma fruta com um odor maravilhoso, rica em vitamina C, um excelente antioxidante. A polpa do tucumã não é muito espessa, tem coloração alaranjada e é rica em caroteno, que é outro grande antioxidante. Nós, homens da floresta, já sabíamos disso há muito tempo”, diz o médico gerontologista Euler Ribeiro.

Todos os moradores do município acima de 60 anos estão sendo avaliados. Os 1,2 mil mais idosos farão parte de uma pesquisa. Os cientistas querem saber por que em Maués eles vivem mais.

Durante três anos, a Universidade do Estado do Amazonas e outras seis universidades do Brasil e do exterior vão investigar as causas da longevidade. Além da alimentação, os pesquisadores querem saber se o meio ambiente, livre de poluição, e a genética contribuem para a vida longa. Exames de sangue vão revelar se os centenários têm no DNA as mesmas proteínas que os idosos de outras partes do mundo.

“Como nós estamos analisando os longevos de Maués, eu vou ver se existem esses alelos. Nós vamos fazer pesquisa genética”, adianta Euler Ribeiro.

Seja o qual for o resultado, seu Rocha segue a rotina. Preocupação mesmo, só em tocar o trabalho com o guaraná. “Só vou parar quando ficar mais fraco e não tiver mais força. Agora, não”, diz ele.

http://g1.globo.com/globoreporter/0,,MUL1072849-16619,00-PESQUISADORES+INVESTIGAM+LONGEVIDADE+DE+MUNICIPIO+AMAZONICO.html

 

Segredos genéticos da vida longa

Paola Sebastiani

Por que somente algumas pessoas vivem mais de cem anos? Motivos econômicos e sociais à parte, o segredo pode estar no genoma. Cientistas acabam de descobrir uma série de assinaturas genéticas particularmente comuns em indivíduos centenários e não no restante da população.

A descoberta levanta a possibilidade de que, no futuro, as pessoas poderão saber se têm ou não o potencial de viver ainda por muitas décadas – sem levar em conta, naturalmente, o histórico familiar, fatores ambientais ou de estilo de vida, por exemplo.

A pesquisa, cujos resultados foram publicados na edição desta sexta-feira (2/7) da revista Science, também é importante para aumentar o conhecimento a respeito de como o ser humano envelhece.

Partindo da tese de que determinados genes podem estar envolvidos no processo de viver até idades mais avançadas, Paola Sebastiani, da Universidade de Boston, nos Estados Unidos, e colegas vasculharam os genomas de 1.055 homens e mulheres com mais de cem anos (cujos dados foram obtidos na pesquisa e em outras anteriores) e de 1.267 indivíduos mais jovens (grupo de controle).

O grupo identificou um número de marcadores genéticos que são especialmente diferentes entre centenários e indivíduos mais jovens. Os cientistas em seguida desenvolveram um modelo para calcular a probabilidade de uma pessoa atingir maior longevidade, com base em 150 polimorfismos de nucleotídeo único (marcadores genéticos) identificados pelo estudo.

O resultado foi notável. Com a ajuda do modelo, os cientistas foram capazes de estimar com 77% de exatidão se um determinado indivíduo ultrapassou ou não os cem anos. Mas os autores destacam que o modelo ainda está longe de ser perfeito.

O método poderá ser aplicado não apenas para avaliar a probabilidade de se tornar centenário, mas também no estudo de doenças relacionadas ao envelhecimento. “A metodologia que desenvolvemos pode ser aplicada a outros mecanismos genéticos complexos, incluindo doenças como Alzheimer, Parkinson, cardiovasculares e diabetes”, disse Paola.

O estudo observou que 45% dos mais velhos entre os participantes – aqueles com mais de 110 anos – tinham assinaturas genéticas com as maiores proporções de variantes associadas à longevidade entre as identificadas pelos cientistas.

Os pesquisadores dividiram as predições genéticas em 19 grupos característicos (ou assinaturas) que se correlacionam com diferentes expectativas de vida além dos 100 anos e com padrões diversos de problemas relacionados à idade, como demência, hipertensão e doenças cardiovasculares.

Segundo os autores, pesquisas futuras dessas assinaturas genéticas poderão revelar padrões hoje desconhecidos a respeito do envelhecimento humano. Também poderão ser úteis para o desenvolvimento de estratégias de prevenção e tratamento específicas para cada indivíduo.

O artigo Genetic Signatures of Exceptional Longevity in Humans (10.1126/science.1190532), de Paola Sebastiani e outros, pode ser lido por assinantes da Science em http://www.sciencemag.org.

http://www.agencia.fapesp.br/materia/12413/segredos-geneticos-da-vida-longa.htm

Dieta e envelhecimento

Drauzio Varella

Quanto mais come, menos vive o animal. O New England Journal of Medicine, a revista médica de maior circulação, trouxe uma revisão sobre aporte calórico e envelhecimento que revoluciona antigos conceitos sobre alimentação e duração da vida.

Já na década de 1930, ficou demonstrado que camundongos mantidos em regime de restrição calórica apresentavam maior longevidade e tinham menos doenças associadas ao envelhecimento. Estudos posteriores foram desenvolvidos com três grupos de ratos : o primeiro alimentado sem restrição de quantidade (ad libitum); o segundo, com redução de 30% no número de calorias ingeridas, em relação ao anterior, e o terceiro, com um corte de 60%. Morreram antes os “ad libitum”, depois os que comeram 30% menos e mais tarde, ainda, o grupo com restrição de 60%.

Se tomarmos em cada um dos grupos anteriores os 10% que viveram mais e tirarmos a média de suas idades ao morrer, verificaremos que o segundo grupo atinge idade cerca de 30% maior e o terceiro 60% maior do que o primeiro, deixando claro que a diminuição do número de calorias na dieta é proporcional à longevidade dos grupos.

Primeira conclusão: respeitados os limites da desnutrição, a expectativa máxima de vida é inversamente proporcional ao número de calorias ingeridas diariamente.

Para avaliar o papel do exercício físico na longevidade, tomemos dois grupos de ratos que ingerem exatamente o mesmo número de calorias diárias. Um grupo é colocado para fazer exercício naquelas rodas em que o ratinho anda sem sair do lugar; o outro permanece na gaiola, sedentário. No final, os ratos atletas pesam 40% menos do que os preguiçosos e atingem vida média maior. A duração máxima de vida (longevidade), no entanto, é igual para os dois grupos.

Segunda conclusão: o exercício físico aumenta a sobrevida média, mas não estende os limites da vida. O exercício pode evitar que você morra de infarto aos cinqüenta anos (o que não é pouco), mas não faz ninguém bater o recorde mundial de cento e vinte dois anos.

Existe um tipo de rato chamado C57BL-BJ que é, como muitos dos nossos leitores, geneticamente obeso. Os ratos dessa linhagem são portadores do gene ob-ob, que condiciona um comportamento metabólico que conduz à obesidade. Num experimento, dois grupos desses animais foram separados: o primeiro alimentado ad libitum e o segundo mantido com restrição calórica. No final, no grupo ad libitum, a gordura representava em média 67% do peso corpóreo; no grupo com restrição, 48% e a expectativa máxima de vida destes ratos foi 50% maior do que a dos alimentados ad libitum, como seria de esperar.

Tomemos agora este segundo grupo de ratos ob-ob com dieta restrita e 48% de gordura no corpo e comparemos com um grupo sem o gene da obesidade, submetido a uma dieta com número idêntico de calorias. Terminada a experiência, os ratos magros terão apenas 13% de gordura no corpo (contra os 48% dos portadores do gene mantidos com a mesma dieta, e 67% dos ad libitum geneticamente obesos). No entanto, a expectativa máxima de vida dos dois grupos que ingeriram o mesmo número de calorias é exatamente igual, porém maior do que a dos ad libitum.

Terceira conclusão: o número de calorias ingeridas, não o grau de adiposidade, é o fator chave em prolongar a vida. Você pode ser gordo ou magro, não vem ao caso, é o número de calorias diárias que interessa para a longevidade.

Em todos os estudos realizados emergem outros dois conceitos fundamentais:

1) Desde que não haja subnutrição, a longevidade não depende de qualquer nutriente em particular, apenas do número de calorias;

2) A restrição calórica deve ser continuamente mantida e quanto mais precocemente iniciada, melhor eficácia terá. Seus benefícios, entretanto, são demonstrados mesmo em idades mais avançadas.

O SEGREDO DA VIDA LONGA

Na pré-história, os homens passavam seus genes para frente e morriam aos vinte ou trinta anos. A longevidade não exerceu pressão seletiva, porque a fase fértil começa precocemente na espécie humana; caso a fertilidade de homens e mulheres só ocorresse depois dos setenta anos, a evolução natural teria selecionado aqueles capazes de viver longos períodos (e procriar).

Há dez mil anos, com a chegada da agricultura, a média de duração da vida aumentou. No início do século XX, quem nascia na Europa vivia perto de cinqüenta anos; hoje, nas sociedades pós-industriais, essa média ultrapassa os setenta anos.

Esse aumento na média da duração de vida ocorreu graças à melhora das condições do meio ocorridas desde o homem caçador até a era da informática. No mesmo período, no entanto, a longevidade humana permaneceu basicamente inalterada (completar cem anos ainda é privilégio de poucos).

Isso ocorre porque, enquanto a duração média da vida de uma população depende das condições ambientais, o aumento da longevidade individual só ocorre se houver retardo no processo de envelhecimento.

A restrição calórica aumenta a longevidade de seres tão diversos como o paramécio (ser unicelular identificado nas aulas de biologia no exame microscópico de uma gota de água parada), a pulga d’água, a mosca da banana, aranhas, répteis, galinhas, e também de mamíferos como os ratos. Isto faz crer que exista um mecanismo ubíquo para o processo de envelhecimento, selecionado pela evolução para todos os seres vivos. É altamente pretensioso imaginar que a evolução selecionasse um mecanismo de envelhecimento, dependente do aporte calórico, válido para todas as espécies, e outro especial exclusivo para o Homo sapiens.

RESTRIÇÃO CALÓRICA E AS DOENÇAS DA VELHICE

Nos roedores, a restrição calórica retarda a instalação de doenças associadas ao envelhecimento como câncer (incluindo mama e próstata, dois dos tipos mais freqüentes no homem), problemas renais e cataratas. Linhagens especiais de ratos que desenvolvem doenças auto-imunes (como artrite ou lúpus, por exemplo) e morrem ao redor dos doze meses de idade, se alimentados ad libitum, ultrapassam vinte meses sem adoecer quando submetidos à restrição calórica.

Na verdade, certas respostas à restrição são extremamente rápidas. Por exemplo, em ratos, a concentração de açúcar (glicose) no sangue cai 20% após apenas cinco dias de restrição calórica. Em macacos, ocorre resposta semelhante.

Nos homens, esses estudos encontram muita dificuldade na quantificação do número de calorias ingeridas. Um trabalho destinado a avaliar o efeito da dieta ocidentalizada em populações japonesas mostrou que na ilha de Okinawa, onde a alimentação é mais tradicional e o aporte calórico 17% mais baixo do que a média do país, a mortalidade por câncer, doenças cardiovasculares e derrames cerebrais é de 31% a 41% menor.

Na Suécia, altos níveis de consumo calórico demonstraram estar associados a maior incidência de câncer de próstata. Estudos epidemiológicos sugerem que a mesma associação talvez exista para câncer de intestino, de estômago e, possivelmente, câncer de mama.

Rapidamente se acumulam dados a respeito das implicações do aporte calórico na doença de Alzheimer, Parkinson, insuficiência cardíaca e outras enfermidades. Coerentemente com os estudos experimentais, os efeitos maléficos da ingestão excessiva de calorias são mais acentuados justamente nos tecidos que não se renovam no corpo humano: músculos, cérebro, coração.

É importante dizer também que as dimensões dos órgãos internos guardam relação direta com o número de calorias ingeridas. Quanto maior a energia absorvida na alimentação, maior é o peso do coração, fígado, rins, próstata, baço, músculos e dos gânglios linfáticos envolvidos na resposta imunológica. Por capricho intencional da natureza, apenas o cérebro e os testículos mantêm constante seu peso, mesmo quando se diminui drasticamente o aporte energético.

EXPLICAÇÃO SIMPLIFICADA

Certamente, você já ouviu falar em radicais livres; está na moda. Cerca de 2% a 3% do oxigênio usado pelas células do organismo formam moléculas altamente reativas, que podem reagir com componentes celulares vitais e prejudicar suas funções. É evidente que a célula conta com mecanismos para neutralizar esses radicais perigosamente reativos.

Uma das organelas mais sensíveis a essa ação deletéria é a mitocôndria, a central energética da célula. A função da mitocôndria é captar nutrientes ingeridos e produzir a energia de que a célula necessita para exercer suas funções. Nesse processo de produção de energia, radicais livres de oxigênio são libertados e neutralizados pelos mecanismos de controle. Acontece que a mitocôndria não é seletiva: havendo nutrientes disponíveis, ela os utiliza para produzir mais energia. Quando os há em excesso, o trabalho é exagerado, a velocidade de formação de radicais livres ultrapassa a capacidade de controle e a mitocôndria começa a funcionar com mais dificuldade.

O resultado é o mesmo de uma usina que começasse a envelhecer e a produzir menos energia para a cidade. Como conseqüência, todos os aparelhos elétricos das casas passariam a funcionar com maior desgaste e durariam menos.

GENÉTICA DO ENVELHECIMENTO

O papel da genética na previsão do número de anos que vamos viver é complexo e paradoxal. Assim começa um artigo publicado na revista Science. Embora os genes que herdamos de nossos pais exerçam forte controle na duração de nossas vidas, não sabemos por que um homem vive cinco vezes mais do que um gato, e este cinco vezes mais do que o rato.

Os dados mostram que a hereditariedade é responsável por menos de 35% da variabilidade na duração da vida dos vermes, da mosquinha das bananas, do rato e do homem. Dois estudos conduzidos entre gêmeos iguais mostraram que mais de 65% da variação na duração da vida corresponde a fatores ambientais. Esse número favorece ainda mais o meio ambiente, quando os gêmeos são criados separadamente.

No momento, é intensa a pesquisa à procura dos genes associados à longevidade no homem e outros mamíferos, pois em vermes e moscas diversos genes desse tipo já foram identificados e clonados. Estudos futuros poderão identificar mecanismos convergentes, através dos quais fatores ligados ao meio interferem com a predisposição genética a certas doenças que encurtam a expectativa de vida. Até então, o papel da predisposição genética no envelhecimento deve ser encarado como secundário a fatores do meio.

RESUMINDO

1) EXERCÍCIO FÍSICO

Melhora a qualidade de vida, emagrece e ajuda a controlar e prevenir grande número das doenças que surgem na maturidade. Como conseqüência, aumenta a vida média das populações que o praticam, mas não aumenta a longevidade.

Há um ponto delicado nesta equação: práticas que envolvem grande consumo energético podem ser deletérias até. Um halterofilista que ingere 5 mil calorias por dia, fornecidas por suplementos de alto teor energético, poderá estar apressando sua velhice, pois suas mitocôndrias estarão sendo desgastadas mais rapidamente. Para elas, não interessa se a energia produzida se transforma em músculos ou gordura; só interessa o total de calorias ingeridas.

2) DIETA GORDUROSA

Descontados os casos dos portadores de defeitos no metabolismo das gorduras, o único problema desse tipo de alimento é seu alto conteúdo calórico. Comer gordura animal não apressa o envelhecimento, desde que a quantidade ingerida seja pequena para garantir um total de calorias baixo.

3) INGESTÃO DE FIBRAS

As fibras presentes nos vegetais são importantíssimas para o funcionamento dos intestinos. Dieta pobre em resíduos dificulta a digestão, provoca sensação desagradável de obstipação e aumento na incidência de doenças inflamatórias e câncer do intestino. Por outro lado, como o conteúdo energético dos vegetais é relativamente baixo, o volume ingerido pode ser substancialmente maior do que o de uma dieta rica em gorduras e açúcares. Dieta vegetariana, per se, não rejuvenesce ninguém.

4) GENÉTICA

Mesmo que sua árvore genealógica seja pródiga em galhos de longa vida jamais deite à sombra, pois a influência da genética na longevidade é muito menor do que a dos fatores ambientais.

5) VITAMINOTERAPIA

Essa moda parte do princípio de que as vitaminas agem como antioxidantes neutralizando os radicais livres presentes no interior das células. Mais do que uma idéia mágica, trata-se de um sonho molecular. Não há qualquer evidência científica de que o consumo de altas doses de vitaminas interfira com o processo de envelhecimento no homem ou outros animais. Imaginar que vitaminas controlem o complexo (e mal conhecido) fenômeno de óxido-redução de radicais livres no meio intracelular retardando o envelhecimento é tão científico quanto dar uma pancada na TV que pifou. Com a diferença de que a televisão, ao contrário da célula, às vezes pega no tranco.

ORIENTAÇÃO

Levará tempo para esclarecermos todas as implicações práticas dessas pesquisas. Na fase atual, os estudos com roedores estão sendo repetidos em macacos, parentes bem mais próximos do homem. Suas conclusões, certamente, serão mais aplicáveis à espécie humana. Se levarmos em consideração, porém, que o rato vive meses, mas o macaco morre aos quarenta anos e que os trabalhos começaram recentemente, é provável que as respostas definitivas sejam dadas quando não estivermos mais aqui.

Nossa geração não dispõe de tempo para aguardar os resultados definitivos dos estudos sobre o impacto da restrição calórica na longevidade humana. Entretanto, como são claríssimas as evidências de que em todas as espécies testadas a redução do número de calorias ingeridas aumenta a duração máxima de vida, a probabilidade de que essa conclusão não valha apenas no caso do homem é mínima, se é que existe.

Diante disso, meu conselho é o seguinte:

1) A menos que você seja portador de desnutrição crônica ou tenha alguma doença de base que o impeça, prepare seu prato como se fosse jantar normalmente e devolva na panela 30% do conteúdo;

2) Não leve travessas de comida para a mesa. Acabou a refeição, levante e saia de perto para não fraquejar;

3) Exagerou na feijoada ontem, não precisa morrer de culpa, capriche na salada hoje, o que interessa é simplesmente a soma das calorias ingeridas.

FONTES

– New England Journal of Medicine1 1997; 337: 986-94

– Science 1996; 273: 59-63

– Science 1997; 278: 407-12

http://www.drauziovarella.com.br/ExibirConteudo/443/dieta-e-envelhecimento

Cresce interesse da ciência pela felicidade

Lúcia Nórcio

FIB – Felicidade Interna Bruta

“Somente nos últimos seis meses, foram divulgados 27.335 estudos e artigos publicados em revistas científicas abordando de aspectos bioquímicos até aspectos psicológicos sobre felicidade,” afirmou a antropóloga e psicóloga Susan Andrews.

Susan, que é responsável pela implantação no Brasil de programas baseados no conceito da Felicidade Interna Bruta (FIB), disse que o interesse da ciência pela felicidade é crescente.

Efeitos da felicidade sobre a saúde

Com base nesses estudos, Susan afirmou que pessoas mais felizes têm sistemas imunológicos mais fortes, têm melhor desempenho no trabalho, adoecem menos, vivem mais e têm casamentos mais sólidos.

“A depressão se tornou uma das principais doenças da sociedade contemporânea. São esses os principais fatores que têm motivado a investigação científica, uma vez que um maior conhecimento sobre o que constitui a felicidade e como medi-la permitirá construir políticas mais eficientes com reflexos positivos sobre a saúde pública,” disse.

Sai o PIB, entra a FIB

A antropóloga participa, em Foz do Iguaçu, da 5ª Conferência Internacional sobre Felicidade Interna Bruta (FIB), que discute até hoje (23) o conceito que surgiu no Butão, na Ásia, de medir o bem-estar de forma mais ampla do que o Produto Interno Bruto (PIB), comumente utilizado para mensurar o progresso material de um país.

A ideia tem a adesão de vários países, que se utilizam de alguns indicadores para orientar a elaboração de políticas públicas.

Bioquímica do corpo humano

Susan explicou que, na bioquímica do corpo humano, uma das substâncias associadas à felicidade é o hormônio cortisol, produzido pelas glândulas suprarrenais.

Pessoas felizes tendem a ter 32% menos cortisol. Em contrapartida, o hormônio é encontrado em abundância em pessoas com alto nível de estresse.

“É preciso ter consciência de que quando uma pessoa está infeliz, seu fígado está infeliz, seu estômago está infeliz, sua pele está infeliz. Os reflexos negativos se espalham pelo corpo inteiro”.

Fonte: http://www.diariodasaude.com.br

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Desenvelhecimento é possível?

Desenvelhecimento é possível?

Em nosso livro desenvelhecimento[1] abordamos a questão do envelhecimento de uma forma não convencional. Trata-se de um estudo realizado de 1988 a 1999, sustentado em quatro pilares, a saber: (1) Estudo bibliográfico, (2) Experiências científicas de rejuvenescimento, (3) Relatos não científicos de rejuvenescimento e (4) Análise de fenômenos biológicos naturais de manipulação do envelhecimento encontrados entre as abelhas.

Com a articulação e compreensão do modo como se integram estes pilares, tentamos mostrar que encontramos na literatura científica e não científica os conhecimentos suficientes para que possamos compreender, de forma plena, o porquê do envelhecimento humano. Este, muito longe de ser uma ocorrência puramente biológica, natural e irreversível, é sim, um fenômeno de natureza emocional, mental, alimentar e cultural que repercute, ressoa e se manifesta no corpo, que enquanto substrato biológico, é o destinatário final da cadeia sócio-cultural-psicológica que nos envolve e pré-existe à nossa existência. Esta quádrupla natureza se reúne somando efeitos e convergindo para um condicionamento social que tem como resultante final um comportamento específico, este sim, envelhecedor. Corolário natural desta compreensão é que o envelhecimento, quando desvelado em seus mistérios revela-se um acontecimento anti-natural (precoce) e reversível, com todas as consequências de curto, médio e longo prazo que possam vir a lume com este entendimento, e com as quais teremos que lidar, de uma forma ou de outra, ineludivelmente, no futuro.

Decorridos cerca de quase sete anos do lançamento de nosso estudo, vejamos como se encontra a pesquisa científica da questão da possibilidade de manipularmos o envelhecimento. O comportamento específico mencionado acima pode ser desdobrado em duas componentes ou variáveis, as quais denominamos de 1. questão nutricional e 2. questão comportamental. Examinaremos a seguir estes dois fatores. A questão genética também presente na pesquisa atual, não tendo sido objeto de nosso estudo, não será abordada neste artigo, deixamo-la para um estudo específico mais à frente.

A QUESTÃO NUTRICIONAL

Atualmente quando se fala em longevidade não há como ignorar a chamada Restrição Calórica[2] (RC), que é atualmente considerada, de forma unânime pelos pesquisadores, quase que a única forma conhecida de se alterar a longevidade máxima em animais e possivelmente em humanos. A outra forma seria a manipulação genética em vermes e moscas-das-frutas. A restrição calórica ganhou o palco dos estudos sobre envelhecimento em 1934 com os estudos científicos pioneiros de McCay e colaboradores na Cornell University, e prosseguem até os dias atuais, sendo atualmente a vedete dos expoentes no estudo da busca da pílula da juventude, a versão moderna do secular desejo humano representado pela lendária Fonte da Juventude. Desta forma, a descoberta trazida ao mundo científico por McCay é hoje o pivô de pesquisas governamentais e privadas de centros de pesquisa de vanguarda do primeiro mundo. A corrida é para chegar primeiro à “pílula da juventude”. Nossos cientistas com seus equipamentos, fórmulas e procedimentos complexos, às vezes quase herméticos, constituem a versão moderna dos magos e procuram a pílula, versão correspondente das poções e varinhas de condão.

Em meados da década de 1990 os pesquisadores Mark A. Lane, Donald K. Ingram e George S. Roth[3], trabalhando no Instituto Nacional do Envelhecimento nos Estados Unidos chegaram a uma substância chamada 2-desoxi-D-glicose (2DG), que simulava alguns dos efeitos da dieta de restrição calórica em roedores, mas possuía um defeito fatal que a impedia de tornar-se séria candidata a pílula da juventude: revelou-se tóxica para alguns animais quando ministrada em doses maiores ou por períodos de tempo mais longos. Passou-se então a procurar encontrar uma substância similar à 2DG que pudesse ser ministrada com segurança em seres humanos. Ressaltemos porém que a 2DG simulava apenas alguns efeitos da restrição calórica (RC). Se fosse verificado, mesmo em roedores, que todos os efeitos da RC estavam presentes, poder-se-ia considerar que se teria chegado perto da fonte da juventude. Mas não tendo sido o que aconteceu, e sendo ainda o mecanismo da restrição calórica um mistério cujo desvendamento apenas se inicia, podemos pensar que o sonho, seguindo este caminho, permanece distante. De fato, decorrida uma década não temos notícia de uma candidata a substituta da 2DG.

Um suposto mecanismo da RC levaria em consideração a redução do ritmo de formação dos Radicais Livres (RL). Esta suposição carrega o raciocínio de que a restrição calórica implica em menor taxa metabólica, com menos queima de glicose, e sendo a queima de glicose consumidora de oxigênio, e sendo este o responsável oficial pela formação de radicais livres (RL), a menor taxa metabólica seria acompanhada de menor formação de radicais livres e menos radicais livres implicariam em menos envelhecimento em mais tempo, estendendo assim o tempo de longevidade máxima e viabilizando a pílula. Em nosso estudo sobre o envelhecimento, fizemos uma análise compreensiva a respeito do mecanismo presente e atuante na restrição calórica, o qual seria, de fato, puramente econômico, em termos energéticos. A grande diferença entre a concepção oficial e a nossa é no tocante à origem dos radicais livres (RL).

A teoria dos Radicais Livres ocupa um lugar de destaque no estudo do envelhecimento, sendo o oxigênio tido como o grande vilão por trás da sua formação. Esta crença cria o que se convencionou chamar de o “paradoxo do oxigênio”: o oxigênio, grande responsável pelo processo da vida, seria também responsável pelo fenômeno inverso do envelhecimento que conduz, lentamente, à morte. Em nosso trabalho, desenvolvido em desenvelhecimento, procuramos demonstrar exatamente o contrário, que não é o oxigênio o grande vilão que nos intoxica de radicais livres que nos envelhecem e adoecem (adoecem, também, pois eles, os RL, estão ocultos nos bastidores de nossas doenças). O grande vilão, realmente, na nossa visão, é a alimentação, que carrega, juntamente com elementos necessários ao metabolismo, uma grande quantidade de agentes tóxicos, estes sim, os grandes e únicos responsáveis pela formação dos RL. Talvez a melhor definição de Radicais Livres que encontramos seja a de Hayflick[4]: seriam pedaços de moléculas altamente reativos gerados em reações químicas complexas que ocorrem quando certas moléculas suscetíveis nas células encontram e quebram moléculas de oxigênio. A química de formação dos radicais livres é reconhecidamente complexa, sendo pouco o que realmente se conhece e muito o que se supõe e se infere com graus variados de segurança. Notemos que a definição acima de Hayflick é bastante cautelosa, ela não responsabiliza o processo da combustão da glicose, apenas envolve “certas moléculas suscetíveis” e o oxigênio.

Foi justamente articulando o raciocínio de Hayflick e de Chopra[5] com os estudos dos Sanchez[6] que concluímos que podíamos equacionar as certas moléculas suscetíveis de Hayflick com as toxinas presentes em nossa alimentação. Seriam elas que responderiam pela geração dos radicais livres. O grande obstáculo no caminho da pílula da juventude, é que os pesquisadores tendem a acreditar ser a respiração (combustão da glicose pelo oxigênio) a grande responsável pela formação de radicais livres. Esta crença os leva a enfocar em suas pesquisas tão somente, ou preferencialmente, a questão da glicose por ser esta a fonte energética última do organismo, e esta, é claro, não pode ser queimada sem o oxigênio. Se não podemos deixar de usar o oxigênio, e não podemos, a pílula da juventude fica, por uma questão de princípio científico, no campo do impossível. Para reverter esta impossibilidade, é necessário primeiro identificar corretamente os responsáveis pela produção dos RL, isto feito, virá o passo seguinte, na forma de uma pergunta, agora corretamente formulada: “é possível encontrarmos uma pílula que iniba a formação dos radicais livres decorrentes das toxinas presentes na nossa alimentação?” Se for possível responder sim a esta pergunta, então o passo seguinte será partir para a pesquisa, caso contrário, procurar outro caminho será a alternativa mais racional e inteligente. Um problema não pode ser resolvido enquanto não se identificam todos os elementos participantes e não se compreende o papel funcional de cada um no processo envolvido.

Resumidamente, pois este espaço não é para aprofundamentos, podemos colocar a questão nutricional, que envolve os radicais livres, em equações que facilitarão nossa compreensão:

RESPIRAÇÃO = OXIGÊNIO + SUBSTRATO ALIMENTAR

O substrato alimentar último (fonte de energia) é a glicose, então temos que a equação toma a seguinte forma

RESPIRAÇÃO = OXIGÊNIO + GLICOSE

A respiração fornece energia (Adenosina-tri-fosfato = ATP), água, gás carbônico e … radicais livres, temos então:

OXIGÊNIO + GLICOSE = ATP + H20 + CO2 + RL

Esta seria a Equação “Oficial” do Envelhecimento, na qual se considera que os RL sejam sub-produtos do oxigênio no processo respiratório (de apenas cerca de 5% do total do oxigênio usado). O raciocínio desenvolvido para chegarmos a esta equação parece correto, na verdade não é, há um erro por omissão logo no início, pois a glicose é a fonte energética última, sim, mas ela nunca vem sozinha, já que faz parte de um substrato alimentar altamente tóxico. Então vejamos: onde é que ocorre a reação química? Ocorre no interior da célula, na organela citoplasmática chamada mitocôndria. Tanto o oxigênio quanto o substrato alimentar necessitam ser carregados do meio intra-celular citoplasmático para o meio intra-mitocondrial. Não é difícil entender que se o substrato alimentar ingerido é de caráter tóxico, possui toxinas que chegarão, depois de absorvidas e/ou metabolizadas, ao interior das células. Isto significa que os meios intra-celulares e mitocondriais se acham constantemente saturados de substâncias tóxicas, que precisam ser eliminadas por se tratarem de corpos estranhos. Para esta eliminação é necessário um quantum de trabalho, que por sua vez exigirá um quantum de energia (não há trabalho sem energia), e esta só é disponível através do ATP, o qual é formado no processo respiratório, e este por sua vez, em virtude de realizar-se num meio poluído por toxinas, estas (que são as certas moléculas suscetíveis de Hayflick) participam de forma intrusiva das reações químicas e geram, por outro lado, outras substâncias tóxicas residuais, que são os RL. A célula vê-se assim, presa numa armadilha: precisa de energia para a manutenção de seus processos vitais e também, para se desintoxicar. Os próprios processos vitais geram resíduos (catabólitos) que tem que ser eliminados e além disso, há que eliminar também as toxinas exógenas carreadas no substrato alimentar. Assim, para obter a energia de que necessita, precisa desencadear processos bioquímicos que geram por si sós, toxinas de outras naturezas. Isto é, quanto mais trabalhar, por um lado, para se desintoxicar ou simplesmente para manter os processos vitais, mais gera, de outro lado, moléculas citotóxicas que são os RL. Os efeitos destes são cumulativos e chega-se a um ponto crítico em que o processo da vida, que é anti-entrópico inverte-se e torna-se entrópico. O processo anti-entrópico é gerador de energia, é construtivo, o entrópico é dissipador, gastador de energia e portanto destrutivo. A este processo de inversão anti-entrópico para entrópico, que no homem acontece usualmente em torno dos 25 anos, chamamos de envelhecimento.

Claro que o organismo também procura reagir e criar mecanismos de eliminação dos RL, desenvolvendo assim formas de neutralizá-los, e é aí que entram os anti-oxidantes naturais que são enzimas com esta finalidade específica. O ponto crítico de inversão que referimos acima é quando estes mecanismos naturais não conseguem mais manter o equilíbrio em favor da anti-entropia. Como as alimentações variam de indivíduos para indivíduos, ou de povos para povos, temos que na vida real podemos encontrar sujeitos que começam a envelhecer mais cedo, outros mais tarde, aqueles que envelhecem menos e outros que envelhecem mais, e até povos que envelhecem menos, tudo em função da quantidade de tóxicos ingerida (tipo de dieta) e de sua capacidade de produzir anti-oxidantes naturais, ou de sua ingestão exógena (tipo de dieta). Aqui entram também em jogo fatores ou condições constitucionais (genéticos ou não), que não estamos enfocando. Assim, encontramos indivíduos que podem apresentar descompassos significativos entre suas idades biológica e cronológica, como é o caso do exemplo de Weeks[7], Richard Elixxir, que analisamos e denominamos Fenômeno Elixxir[8]. Este sujeito do estudo de Weeks simplesmente apresentava uma idade cronológica de 42 anos e sua idade biológica era de aproximadamente 18 anos, o que significava que ele não tinha chegado a atingir o ponto crítico de inversão referido acima (ponto de envelhecimento), tendo desta forma, conforme nossa análise e cálculos, desenvolvido sua longevidade máxima possível para 280 (duzentos e oitenta) anos. Percebamos o quanto isto contrasta com as notícias veiculadas na mídia, que colocam no nível quase do fantástico a possibilidade de a geração nascente chegar aos 130 anos. Já existem indivíduos, na geração adulta com suas longevidades máximas possíveis em torno de 280 anos, e ninguém ainda, no universo gerontológico, se deu conta! Não podemos deixar de lembrar, aqui, de Alvin Silverstein[9], que em 1979, quando presidente do Departamento de Ciências Biológicas da Faculdade de Staten Island – Universidade de Nova Iorque, criou o conceito de emortalidade. Segundo ele o homem do futuro seria emortal, isto significando que somente morreria por causas acidentais. Vamos dar-lhe a palavra:

“As pessoas (no futuro) poderão viver durante centenas, até milhares (negrito nosso) de anos, possuindo mocidade vigorosa e mente ágil e ativa, durante toda a vida. (…) No mundo de emortais, a vida há de adquirir nova significação e, pela primeira vez, preocupar-nos-emos genuinamente com a qualidade da vida. Lutaremos para banir a dor e a pobreza. Não haverá mais ‘velhos’, pois os conhecimentos que permitirão a conquista da morte hão de trazer consigo também a eterna juventude.”

Silverstein no entanto foi otimista demais, superestimou o avanço biomédico e previu que alcançariamos a emortalidade até o final do século passado. Como ele próprio reconhecia, fazer previsões é perigoso.

Na análise que fizemos do trabalho de Weeks[10] colocamos que se ele fizesse outra pesquisa tomando como grupo de estudo aquelas pessoas que tivessem as mesmas características de Richard Elixxir, com certeza encontraria resultados muito interessantes num estudo longitudinal. Podemos dizer com segurança, diante de nossos estudos, que a pesquisa de Weeks revela a existência de uma população que já aumentou sua longevidade máxima possível, sem participação da ciência gerontológica. Tudo indica que entramos, mesmo sem perceber, na era dos emortais. Eles já estão entre nós! Não deixa de ser interessante que outro autor, de região próxima à de Weeks, o gerontologista britânico Tom Kirkwood[11], da Universidade de Manchester, estudioso do envelhecimento desde 1974, que também acredita, como nós, que o envelhecimento é reversível e evitável, tenha desenvolvido no final de seu livro[12] uma pequena novela que se desenrola numa época futura num mundo de emortais.

Retornemos às nossas equações. Percebemos então, que a equação acima, “limpa”, sem toxinas só pode existir nos livros e na teoria. Temos que necessariamente corrigi-la, e aí ela toma a seguinte forma:

OXIGÊNIO + GLICOSE + TOXINAS = ATP + H2O + CO2 + RL

(TOXINAS = CERTAS MOLÉCULAS SUSCETÍVEIS DE HAYFLICK)

Esta é a nossa Equação do Envelhecimento, a equação tóxica, onde consideramos os RL como sub-produtos das toxinas, e não do oxigênio. Esta é a equação real, a que ocorre no interior das células.

Podemos agora, representar a Equação do Desenvelhecimento:

OXIGÊNIO + SUBSTRATO ALIMENTAR (SEM TOXINAS) = ATP + H2O + CO2

Ou ainda:

OXIGÊNIO + GLICOSE = ATP + H2O + CO2

Isto é, se retirarmos a causa (toxinas) de um lado da equação, desaparece o efeito (RL) do outro lado. Os radicais livres gerados pelo oxigênio (cerca de cinco por cento), se é que realmente existem, podem perfeitamente ser neutralizados pelos antioxidantes naturais, que sem a sobrecarga representada pelas toxinas exógenas dão conta do recado sem problemas. O que constitui um substrato alimentar sem toxinas? Uma alimentação saudável. Foge do objetivo deste texto adentrar nesta questão. Mas esta percepção está presente, atualmente, em todos os trabalhos e matérias escritos a respeito de envelhecimento “saudável” e longevidade. O grande problema é que mesmo as alimentações tidas como saudáveis não o são realmente, podem ser no máximo, menos tóxicas, “saudáveis” o são apenas relativamente às muito tóxicas. É claro que não deixa de ser salutar que se esteja caminhando na direção certa apesar dos tropeços na compreensão dos fenômenos envolvidos. Porém, felizmente a questão do desenvelhecimento, como já colocamos no início desta matéria, não se restringe apenas à questão nutricional e portanto à restrição calórica e aos radicais livres, é o que veremos a seguir.

A QUESTÃO COMPORTAMENTAL

Sendo esta questão relativamente complexa vamos a seguir expor um resumo das principais análises feitas em nosso livro, para em seguida tecer comentários a respeito.

ELLEN LANGER[13]: Esta cientista conduziu em 1979, juntamente com sua equipe, da Universidade de Harvard, uma experiência histórica que efetiva e comprovadamente reverteu a idade biológica de um grupo de idosos. Ela formou dois grupos de idosos, todos com mais de 75 anos, um foi o grupo da experiência (grupo A) e o outro foi o grupo controle (grupo B). Todos gozavam de boa saúde e foram convidados a passar uma semana em uma estância rural. Os integrantes dos dois grupos foram submetidos antes a exames físicos e mentais com o objetivo de terem, individualmente, determinadas suas idades biológicas. A estância onde ficou o grupo A fora organizada como um réplica da vida como ela era vinte anos antes: as revistas e jornais das mesas de leitura eram todos de 1959, a música disponível no ambiente também era de 1959. Os integrantes do grupo não foram autorizados a levar jornais, revistas, livros ou fotos de família com datas depois de 1959. Cada homem do grupo usava um crachá de identificação com fotos tiradas em 1959 e foram instruídos para que falassem exclusivamente como se estivessem em 1959, assim suas conversas deveriam girar tão somente em torno dos assuntos de 20 anos antes, inclusive deveriam se referir a suas esposas e filhos como se tivessem vinte anos menos. Igualmente, embora fossem todos aposentados deveriam falar de suas atividades como se elas se desenrolassem em 1959. Resumindo, todos os detalhes daquela semana foram cuidadosamente planejados para que cada um dos membros do grupo se sentisse, parecesse e falasse como se tivesse cerca de vinte anos menos. Isto é, cada um deles deveria se comportar como se tivesse 20 anos a menos. Após a semana de retiro todos foram novamente submetidos à bateria de exames que fora feita antes. Os novos exames revelaram que aspectos do envelhecimento até então considerados irreversíveis foram revertidos. As medidas dos comprimentos dos dedos, que tendem a encurtar com a idade, revelaram que eles tinham ficado mais compridos, as juntas enrijecidas estavam mais flexíveis, a postura tinha ficado mais ereta, a força muscular tinha aumentado, a audição e a visão tinham melhorado, a inteligência (testes de QI) tinha aumentado em metade dos participantes do grupo. Além disso, avaliadores imparciais que examinaram fotos de antes e de depois da experiência concluíram que as fotos posteriores mostravam rostos visivelmente mais jovens em cerca de 3 (três) anos. O grupo B, de controle, que continuou “vivendo” em 1979, também apresentou algumas melhoras, mas aspectos que reverteram no grupo A, continuaram aqui deteriorando, inclusive a inteligência, que tinha aumentado em metade dos membros do grupo A, no grupo B diminuiu em um quarto dos participantes. Langer atribuiu o resultado da experiência a três fatores: (1) pediu aos homens que se comportassem como se fossem mais jovens, (2) eles foram tratados como se fossem mais jovens (grifo nosso) e (3) pediu-se aos homens que seguissem instruções. Segundo Chopra, como os três fatores tinham sido sobrepostos, Langer não teve certeza absoluta sobre qual deles teria sido o mais importante. Ela havia pedido, no item 3, que seguissem instruções complexas a respeito de sua rotina diária; parece que isso a fez pensar que o item 3 seria o mais importante, pois especulou que “resultado semelhante na reversão do envelhecimento talvez pudesse ter sido obtido se tivessem dado aos homens uma tarefa complexa para desempenhar, como, por exemplo, compor uma ópera – uma tarefa que Verdi se impôs quando chegava aos 80 anos”. Nós mostramos em nosso estudo[14] que os três fatores de Langer foram na verdade um só fator, que se apresentou com formatos diferentes. A este fator denominamos questão comportamental.

REJUVENESCIMENTO DAS ABELHAS[15]: Consideremos um enxame de abelhas, se ele se divide para formar uma nova colônia, esta certamente terá uma população maior de abelhas mais velhas. Como as atividades numa colméia são distribuídas em função da idade das mesmas, a nova colônia se tornará carente de abelhas mais jovens que são as que respondem pelo cuidado das larvas, são as “babás”. Diante desta carência algumas das velhas operárias (forrageadoras) revertem suas idades e se tornam jovens de novo, literalmente, isto é, voltam a produzir os hormônios das jovens e têm as glândulas que tinham definhado regeneradas e funcionantes. Em uma palavra, desenvelhecem, seus corpos voltam a ser jovens. Para avaliarmos adequadamente a importância deste fato devemos ter em mente que, como coloca Hayflick[16], todos os membros da colônia tem os mesmos genes. Como mostramos em nosso trabalho, as abelhas velhas desenvelhecem porque se comportam como abelhas jovens. De novo a questão comportamental.

LONGEVIDADE DA RAINHA[17]: A rainha das abelhas pode viver até 6 anos, ou 2190 dias. A vida média de uma abelha operária é em torno de 30 dias, embora possam viver até 7 meses no verão. Comparando a longevidade da rainha com a das operárias, vemos que a rainha pode aumentar a longevidade, em relação à média das operárias, em 73 vezes (30 dias x 73 = 2190 dias). Hayflick atribui esse extraordinário aumento de longevidade à alimentação da rainha, exclusivamente com geléia real por toda a vida, enquanto as operárias são alimentadas com geléia real somente por três dias, dizendo que ninguém sabe porque isso ocorre. Conforme mostramos em nosso estudo[18], isso ocorre porque ela continua sendo tratada como jovem, já que a alimentação das mais jovens (até três dias) é a geléia real; e não por propriedades intrínsecas à geléia real. Lembremos do fator (2) de Langer: os idosos foram tratados como se fossem mais jovens, aqui temos a rainha sendo tratada como se fosse mais jovem. Ser tratada como se fosse mais jovem significa um comportamento dirigido a ela, este sendo uma ação, enseja uma reação, também comportamental, que é a de se manter jovem por mais tempo, isto significando aumento de longevidade.

CHOPRA[19]: A pesquisa deste autor levou mais de duas décadas e foi com pessoas que praticavam meditação transcendental. Ele observou nestas pessoas ganhos na idade biológica que variavam de 5 a 12 anos, estes ganhos significavam descompassos entre as idades cronológica e a biológica, tendo esta sido retardada. Este é o mesmo efeito observado na Restrição Calórica e significa aumento de longevidade máxima. Conforme nossos estudos[20] isto significa que as pessoas da experiência de Chopra tinham, até aquele momento, estendido suas longevidades máximas para até cerca de 234 anos. De novo, assim, voltamos à questão de os emortais já estarem entre nós, e de novo aqui identificamos a questão comportamental.

Voltemos um pouco no tempo. Houve época em que a Terra era considerada o centro do universo, o Sol girava em torno da Terra. Era inconcebível que se pensasse o contrário, a heresia poderia ter que ser quitada na fogueira. Os tempos mudaram e hoje é inconcebível que se pense que o Sol gira em torno da Terra. Mas o novo conhecimento não se impôs sem resistências severas, os dogmas são como os ditadores, tudo fazem para permanecer. Pensamos que algo semelhante ocorre com outro dogma moderno, porém secular, o dogma do envelhecimento. Que elementos temos para pensar isto? Chopra comenta, à pág. 365 de seu livro (1993), a respeito do fato curioso e interessante, visto acima, de as abelhas terem a capacidade de reverter sua idade biológica: “Quando os pesquisadores descobriram isso, ficaram atônitos” nos conta. Ou seja, as abelhas velhas podem, literalmente, como já vimos, voltar a ser jovens, em determinadas condições da colméia. É o único animal, até onde temos conhecimento, possuidor desta capacidade. Esta descoberta, acreditamos, deve ter despertado a curiosidade e atiçado os cientistas, biólogos e gerontologistas pelo menos, a procurarem pesquisar e descobrir o porquê. Isto certamente deve estar acontecendo e, embora não tenhamos conhecimento dos desdobramentos, podemos pensar provavelmente com pouca margem de erro, que se está procurando algum gene que responda pela façanha. O pesquisador citado por Chopra quando trata da questão é Gene Robinson, da Universidade de Illinois[21]. Sendo porém uma descoberta capital a respeito do envelhecimento, pensamos que deveria pelo menos ser divulgada nos livros que abordam a questão. Pois bem, entre todos os livros que pesquisamos em nosso estudo, o único que trata da questão é Chopra. E mesmo assim, ele o faz apenas “de passagem” no final do livro. Em sua tentativa de compreender o fenômeno do envelhecimento abordando-o de uma forma holística e não restritiva, ele menciona a descoberta para fazer uma analogia das abelhas operárias que revertem o envelhecimento às células de nosso corpo que se deixam morrer, individualmente, pela continuidade do organismo como um todo. Nós preferimos optar por comparar a abelha com o homem e assim mostramos que o mecanismo comportamental desenvelhecedor atuante no processo era o mesmo por nós identificado nas experiências de rejuvenescimento que já tínhamos analisado, de Ellen Langer e do próprio Chopra.

Não podemos deixar de pensar por quê um cientista eminente como Hayflick, com um currículo acadêmico de porte, omitiu esta informação em seu livro publicado em 1994, no ano seguinte ao de Chopra. Por quê outros autores também omitem esta informação? Poderão todos os estudiosos do envelhecimento desconhecer a descoberta referida por Chopra? É possível que Hayflick, que era e ainda é uma autoridade de peso na área, desconhecesse a descoberta mencionada por Chopra quando publicou seu livro? Parece-nos que as duas últimas respostas, pelo menos, provavelmente são negativas. Por quê então a omissão da informação?

Talvez a descoberta de que um animal possa reverter o envelhecimento seja algo tão perturbador quanto foi a idéia de que a Terra não era o centro do universo. Afinal, quantas mudanças (e que mudanças!) poderiam (poderão!) advir de uma descoberta deste calibre! Uma vez que nada no repertório do conhecimento científico atual, tão arduamente construído e zelosamente guardado, parece capaz de explicar a possibilidade do desenvelhecimento (para a ciência gerontológica; não é esta a opinião deste autor, nem de alguns outros), admiti-lo talvez implicasse ter que olhar de frente para a fragilidade do edifício do conhecimento construído a duras penas ao longo das gerações. Parece que os gerontologistas, em sua maioria, adotaram a seguinte postura: apeguemo-nos aos nossos dogmas e ignoremos, enquanto possível, os fatos. É, por incrível que pareça, exatamente esta a regra do evoluir científico, constitui-se no paradoxo dos cientistas (não da ciência que é uma entidade abstrata), dedicar-se à busca do conhecimento, do novo, e negá-lo, num primeiro momento, quando o encontra. Mas isso também não deixa de ser estranho, pois a ciência biológica já convive com outras descobertas pelo menos quase do mesmo calibre: a hidra[22], um animal marinho primitivo, sabe-se, não envelhece, sua morte só pode ocorrer por falta de alimento, falta de água ou por algum agente externo. Da mesma forma, muitos peixes[23], e o linguado fêmea é o exemplo clássico, assim como alguns outros animais (anfíbios e répteis) também não envelhecem. Podemos ver, portanto, que a emortalidade existe na natureza.

O envelhecimento é um dos grandes mistérios da biologia, ao lado e entre a vida e a morte. Desde cedo nossas crianças aprendem nos primeiros anos da escola (quando não antes, em casa), que todos os seres vivos (aprendem errado, já vimos, não são todos) nascem, crescem, envelhecem e morrem. Crescemos ouvindo e vendo, aprendendo e nos condicionando, de uma forma ou outra, que este é o “ciclo da vida”. Assimilamos e impregnamos nossa mente de que isso é inquestionável. Sim, talvez seja perturbador demais pensar que não precisamos necessariamente envelhecer, melhor engavetar qualquer coisa que nos mostre esta possibilidade. Como ficaria nossa aposentadoria, que faríamos com mais tempo para viver, onde acharíamos mais motivação num mundo tão decepcionante e cheio de injustiças e frustrações? Talvez pior, teríamos que abrir mão da fuga no envelhecer e morrer, pois, como bem disse Chopra, “embora nos consideremos vítimas da idade avançada e da morte, a verdade nua e crua é que, para muitos de nós, envelhecer e morrer constituem a única válvula de escape de uma vida incompleta”. E a nossa estrutura social e econômica que foi construída na base do dogma vigente do envelhecimento, de acordo com o qual temos que nascer, crescer, envelhecer e morrer? E o que seria de nosso sistema de seguridade social, já gravemente ferido pelo simples aumento da expectativa de vida? Fácil perceber que esta nova descoberta é portadora de possibilidades hoje quase inimagináveis, de um tremendo potencial de mudanças sociais, ao subverter a crença basilar sobre a qual se construiu a estrutura de nossa sociedade. É, talvez Hayflick tenha sido apenas o porta voz de sua categoria quando no final de seu livro disse que eliminar o envelhecimento ou aumentar a longevidade talvez não seja nem desejável!

Mas voltemos às abelhas. Elas perturbam ainda mais. Não nos mostram apenas que o envelhecimento é reversível. Mostram também que a longevidade é manipulável! Mostram-nos que a sociedade (a sociedade seria uma entidade?) pode produzir indivíduos cujas longevidades variem de acordo com suas funções, para atender aos interesses não dos indivíduos, mas da sociedade, da organização da sociedade, do todo e não das partes. Onde ficaria nosso individualismo? A sociedade americana é essencialmente individualista, formatada para a competitividade entre os sujeitos e não para a cooperação, como por exemplo, a sociedade japonesa, onde os sujeitos pensam a priori, no coletivo e não no individual[24]. Ora, a sociedade das abelhas é essencialmente cooperativista e não individualista-competitivista. Hayflick é americano, a maioria dos autores sobre envelhecimento por nós pesquisados são americanos! Já Chopra, talvez não seja mera coincidência, nasceu e foi criado em Nova Délhi, na Índia. Pode não ser, afinal, tão difícil de entender. Com todo o respeito que temos por Hayflick, e o respeitamos muito, não conseguimos deixar de imaginá-lo pasmado e horrorizado com a descoberta das abelhas. Mas não sejamos injustos, se Hayflick supostamente omite a descoberta do desenvelhecimento das abelhas, não omite a questão da manipulação da longevidade, embora também não consiga entendê-la. É possível que o fato mais perturbador de todos seja a extraordinária extensão da longevidade obtida pela rainha das abelhas em relação às operárias. Conforme vimos acima, a rainha podendo viver até seis anos tem um aumento de longevidade de 73 vezes a longevidade média das operárias, e isso sem diferenças genéticas, o que significa que os alicerces da genética também serão abalados (já o estão sendo pelo projeto genoma que foi concluído). E isto, especialmente, é deveras perturbador, pois se extrapolarmos esta capacidade para nós humanos, obteremos uma longevidade possível que vai muito além das mais ousadas e imaginativas histórias de ficção científica. Basta multiplicar 73 vezes a longevidade média atual. O resultado nos leva aos milhares de anos de Alvin Silverstein. Realmente perturbador, dá até vontade de dar razão a Hayflick.

E quanto à experiência de Langer? Ela própria admitiu não saber qual dos fatores de sua experiência produziu os resultados obtidos de desenvelhecimento. Ficou confusa, viu três fatores onde só havia realmente um. Mas a experiência aconteceu, foi um fato. Um fato, de novo, eludido pelos gerontologistas, aqui também não encontramos referência na literatura, a não ser no livro de Chopra. É no mínimo muito estranho, e muita coincidência que dois fatos distintos que trazem à tona a vulnerabilidade da idéia do envelhecimento ser irreversível sejam sistematicamente omitidos pelos gerontologistas. Quanto a Chopra e sua pesquisa igualmente não encontramos referências em outros autores.

O grande mérito da experiência de Ellen Langer, embora possa não ter sido esse o propósito inicial do experimento, foi provar experimentalmente, e estamos falando de um trabalho científico padrão Harvard, que o desenvelhecimento é possível, e que pode não depender da questão da restrição calórica, já que ela não mexeu nesta variável. Chopra também tem seu mérito com sua experiência de desenvelhecimento associada com meditação transcendental, na qual obteve em seus praticantes ganhos de 5 a 12 anos em cerca de 22,5 anos de prática meditativa, o que significa, conforme vimos acima, possibilidade de aumento da longevidade máxima para cerca de 234 anos, também sem mexer na variável nutricional. O fato de nós podermos ter identificado em nosso estudo o fator específico, comportamental, atuante na experiência de Ellen Langer, o mesmo fator na experiência de Chopra, o mesmo fator no fenômeno das abelhas e ainda a atuação deste fator no Coronel Bradford, personagem do clássico de Peter Kelder[25] (vide nota), não pode ser desprezado nem atribuído a meras coincidências; mas se pudesse ter esta atribuição, restaria ainda a pesquisa de Weeks, que foi pesquisa de campo, enquanto a nossa foi de gabinete. Pois bem, na análise que fizemos do trabalho de Weeks, e usando as informações colhidas por ele, pudemos também, identificar o mesmo fator comportamental causal específico (algumas vezes associado ao fator nutricional, outras não). Parece-nos que nem forçando o raciocínio é possível insistir na coincidência. A única coincidência aqui, e não deixa de ser interessante, é que ele fez sua pesquisa de 1988 a 1998, e nós fizemos a nossa de 1988 a 1999, praticamente no mesmo período portanto.

Podemos, ainda, ir um pouco além, acrescentando algo que não está em nosso livro, porque pesquisamos depois: o mesmo fator comportamental responsável nas abelhas pela manipulação da longevidade da rainha, o encontramos nas formigas[26] (suas rainhas também são campeãs de longevidade). Não foi com surpresa, já esperávamos isso, que verificamos que as rainhas das formigas também são alimentadas pelas operárias, estas as alimentam regurgitando alimento previamente engulido em sua boca, ou seja, a rainha é alimentada tal qual uma formiga “bebê”, incapaz de se alimentar sozinha. Observemos que a atribuição da extensão da longevidade da rainha das abelhas à geléia real, como faz Hayflick, torna-se incompatível com o fato de a formiga rainha ser extraordinariamente longeva, já que aqui não encontramos o alimento geléia real ou algo equivalente. Por outro lado o fato de ambas as rainhas serem tratadas como bebês ou jovens permite a compreensão da essencialidade deste comportamento no fenômeno em questão. Igualmente deveremos encontrar nos cupins, o mesmo mecanismo comportamental, já que também são insetos sociais que têm rainhas longevas.

Procuramos mostrar ainda, em desenvelhecimento que estas duas questões, Nutricional e Comportamental têm força suficiente, cada uma delas, para exercer seus efeitos individualmente, sendo os mesmos, quando da ocorrência das duas simultaneamente, somados e potencializados.

Recentemente (2004) a revista Scientific American Brasil publicou uma edição especial com a temática da busca científica da juventude. Nesta edição colaboraram diversos gerontologistas, pesquisadores e clínicos, além de jornalistas científicos. O próprio Hayflick, juntamente com S. Jay Olshansky e Bruce A. Carnes, é autor do ensaio “A Falácia da Fonte da Juventude”, às págs. 88-91. De novo a questão da reversibilidade do envelhecimento das abelhas e a experiência de Ellen Langer não foram sequer mencionadas em toda a revista. Notemos que o título do ensaio, “A Falácia …” já é um ataque à idéia de que possa haver ou ser encontrada uma “Fonte da Juventude” – ou o seu equivalente, uma forma de desenvelhecer ou de nem sequer envelhecer. Não deve ser surpresa, a esta altura, sabermos que Hayflick e os outros dois autores representam no ensaio, um grupo de 51 (cincoenta e um) cientistas que estudam o envelhecimento. Não precisamos dizer que Chopra não teve espaço na revista, nem que Gene Robinson, o estudioso das abelhas da Universidade de Illinois, não assina nenhum artigo e nem é mencionado. Enfim, não podemos mais pensar em coincidências. Hayflick e companhia parecem estar empenhados em defender o Sol girando em torno da Terra. Só nos resta perguntar: onde está o Hayflick que no prefácio de seu livro[27] escreveu que “A mente de um cientista precisa estar aberta a novas idéias, por mais heréticas que essas sejam”?

NOTAS E REFERÊNCIAS

1. Gonçalves, Leocádio C. – Desenvelhecimento – Um vôo livre panorâmico sobre a questão do envelhecer – São Paulo (SP) – 1999 – Editora LTR

2. Restrição Calórica é uma dieta com todos os nutrientes necessários e com redução significativa de calorias.

3. Scientific American Brasil – Especial juventude – Duetto Editorial – São Paulo (SP) – 2004 – págs. 46-51

4. Hayflick, Leonard – Como e por que envelhecemos – Rio de Janeiro (RJ) – 1996 – Editora Campus – pág. 233

5. Chopra, Deepak – Corpo sem idade, mente sem fronteiras – Rio de Janeiro (RJ) – 1995 – Editora Rocco

6. Sanchez, Mário e Sanchez, Martina – Medicina nutricional – Goiânia (GO) – 1988 – Imery Publicações

7. Weeks, David e James, Jamie – Segredos dos Superjovens – Rio de Janeiro (RJ) – 1999 – Editora Objetiva – pág. 305

8. Gonçalves, Leocádio C. – Desenvelhecimento – págs. 243-245

9. Silverstein, Alvin – Conquista da morte – São Paulo (SP) – 1981 – Difel Difusão Editorial – pág. 17

10. Gonçalves, Leocádio C. – Desenvelhecimento – págs. 239-245

11. Kirkwood, Tom – Os melhores anos de nossas vidas – Rio de Janeiro (RJ) – 2001 – Editora Record

12. Kirkwood – Os melhores anos de nossas vidas – págs. 285-298. Uma parte desta noveleta aparece na Scientific American Brasil referida na nota 3, às págs. 92-94

13. Chopra – Corpo sem idade, mente sem fronteiras – págs. 116-119

14. Gonçalves, Leocádio C. – Desenvelhecimento – págs. 135-140

15. Chopra – Corpo sem idade, mente sem fronteiras – pág. 365

16. Hayflick – Como e por que envelhecemos – pág. 20

17. Hayflick – Como e por que envelhecemos – pág. 20

18. Gonçalves, Leocádio C. – Desenvelhecimento – págs. 224-227

19. Chopra – Corpo sem idade, mente sem fronteiras – pág. 47

20. Gonçalves, Leocádio C. – Desenvelhecimento – págs. 131-135

21. Entramos no site de Robinson e verificamos que ele conduz uma pesquisa projetada para explicar a função e a evolução dos mecanismos comportamentais dos indivíduos nas sociedades. Busca, estudando as abelhas, os mecanismos neurais e neuroendócrinos que regulam o comportamento e os genes que influenciam o comportamento social. Não conseguimos saber sobre a questão da reversão do envelhecimento das abelhas.

22. Chopra – Corpo sem idade, mente sem fronteiras – pág. 364

23. Hayflick – Como e por que envelhecemos – pág. 13

24. Tobin, Joseph, Wu, David e Davidson, Dana (1989). Citados por Michael Cole e Sheila R. Cole em “O desenvolvimento da criança e do adolescente” – Porto Alegre (RS) – 2004 – Artmed Editora – 4a edição – pág. 475

25. Kelder, Peter – A fonte da juventude – São Paulo (SP) – 1989 – Editora Best Seller – 8a edição. O Coronel Bradford, depois de aposentado teria retornado ao Himalaia, onde prestara serviço quando jovem, para tentar encontrar um lendário mosteiro, do qual se dizia que os velhos que para lá iam, quando saíam, depois de algum tempo, estavam jovens de novo. Bradford encontra o mosteiro e descreve a vida como era dentro do mesmo. Nesta descrição identificamos os dois fatores, nutricional e comportamental.

26. Storer, Tracy I., Usinger, Robert L., Stebbins, Robert C. e Nybakken, James W. – Zoologia geral – 2005 – Cia. Editora Nacional – 6a edição – 9a reimpressão – pág. 543

27. Hayflick – Como e por que envelhecemos – pág. XX.

Este artigo foi escrito originalmente em janeiro de 2006 para publicação no Volume VI das edições do Grupo de Estudos Avançados de Goiânia, dirigido pelo prof. Mário Sanchez. Fizemos pequenas modificações para colocá-lo neste site.

É livre para reprodução (tradução ou difusão) total ou parcial, desde que citadas a autoria e a fonte.

Autor: Leocádio Celso Gonçalves

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Comer menos para viver mais (31-05-2007)

Uma dieta restritiva – com redução da ingestão de alimentos de 40% a 60% sem chegar à desnutrição – induz efeitos notáveis para a saúde e é capaz de aumentar a longevidade de diversos organismos vegetais. Isso é o que se sabe, mas os efeitos da restrição dietética em animais e especialmente em humanos ainda são pouco conhecidos.

A edição de 31 de maio da revista Nature traz uma contribuição para diminuir o desconhecimento sobre assunto. Um estudo, feito nos Estados Unidos, descreve o papel de um gene específico no aumento da longevidade. O trabalho foi feito com Caenorhabditis elegans, verme considerado organismo modelo para estudos biológicos.

“A restrição dietética estende a longevidade e retarda o surgimento de doenças relacionadas à idade em muitas espécies, além de alterar profundamente a função endócrina em mamíferos. Em nosso estudo, mostramos que o aumento da longevidade em Caenorhabditis elegans submetido a uma dieta restritiva requer o gene SKN-1 atuando em um par de neurônios conhecido como ASI. Essa restrição ativa o SKN-1 nesses neurônios que, por sua vez, sinalizam a tecidos periféricos para um aumento na atividade metabólica”, descreveram Nicholas Bishop e Leonard Guarente, do Departamento de Biologia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts.

Segundo os dois, a descoberta demonstra que o aumento da longevidade em animais depende da sinalização celular não autônoma de neurônios centrais para tecidos e sugere que os neurônios ASI seriam responsáveis pela mediação do aumento na expectativa de vida – por meio de um mecanismo endócrino ainda desconhecido.

No estudo, a dieta restritiva dos vermes consistiu na diluição das bactérias que lhes servem de alimento. As colônias de C. elegans submetidas à redução alimentar viveram de 20% a 50% mais do que as que se alimentaram normalmente.

O SKN-1 é um fator de transcrição, ou seja, uma proteína que regula a expressão de diversos outros genes. O trabalho ressalta que o SKN-1 não é o único responsável pelo aumento na longevidade verificado nos vermes analisados.

Em comentário na mesma edição da revista, Adam Antebi, da Faculdade de Medicina Baylor, pergunta se o SKN-1 não atuaria junto com o PHA-4, outro gene que estaria ligado à maior expectativa de vida – conforme estudo publicado na Nature no início do mês, conduzido por pesquisadores do Instituto Salk para Estudos Biológicos. Segundo Antebi, encontrar respostas a essas e a outras dúvidas sobre o assunto pode “iluminar o caminho para o aumento na saúde e na longevidade humanas”.

O artigo Two neurons mediate diet-restrictioninduced longevity in C. elegans, de Nicholas Bishop e Leonard Guarente, pode ser lido por assinantes da Nature em http://www.nature.com.

Fonte: http://www.agencia.fapesp.br/boletim_dentro.php?id=7225